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quinta-feira, 25 de abril de 2024

O dia 25 de Abril de 1975 (também) foi uma “espécie de arco-íris” ...

 


Em Abril de 1975 residia em Moçambique, na cidade de João Belo, Xai Xai, capital do distrito de Gaza, exercia as  funções de  gerente comercial numa das maiores empresas do setor, e tinha sido eleito secretário da Associação de Desportos  do Distrito de Gaza.

A revolução “dos cravos”, foi recebida com euforia  em Malehice, Chibuto, Distrito de Gaza, de onde era natural Joaquim Chissano.

Em João Belo, e nas outras localidades, a maioria da comunidade europeia partilhou com agrado a satisfação da população africana pelo primeiro passo para o fim da luta armada e consequente independência de Moçambique, como era o desejo de quem aí tinha nascido e de muitos outros que, pela paixão do amor, tinham adotado  aquela terra  como sua. Era o meu caso!

Dias depois  do 25 de Abril de 1975, em nome dos proprietários da Casa Fonseca e dos seus funcionários, subscrevi um telegrama endereçado a Joaquim Chissano, que ocupou a função de Primeiro-Ministro do Governo de Transição até 25 de junho de 1975, data da proclamação da independência de Moçambique; posteriormente assumiu a pasta de Ministro dos Negócios Estrangeiros e mais tarde foi eleito Presidente da República.

O texto do telegrama, em síntese,  parabenizava o ilustre conterrâneo pelo seu  empenho no futuro de Moçambique, terra de “todos nós”, independentemente das suas origens, cor da pele, raça e religião.

- O dia 25 de Abril de 1975  (também) foi uma “espécie de arco-íris” ...

quinta-feira, 28 de março de 2024

ESTGOH, 2007 - Caloiros “à solta”

 “(…)O Ginja II, que tem jeito para o canto, apresentava-se com um estilo de penteado com tendências futuristas, deu nas vistas - pelo menos enquanto não visitou o barbeiro para acerto das escadinhas laterais, entre as orelhas e o cocuruto(…)”


 Não perco pitada das estórias contadas em jeito de crónica pelo escritor Rui Zink, daí que procure alguns dos seus subsídios para meios sorrisos eloquentes, como o excerto deste texto: “Dinossauros excelentíssimos”, que pode ser lido nas suas crónicas benditas: “Luto pela felicidade dos portugueses”.
“…Ao almoço, no restaurante:
- O que recomenda?
- O pargo está uma delícia, e além disso é licenciado em Económicas
- Hum… licenciado em Económicas…
- Mas olhe que está uma categoria…
- Eu sei, mas queria qualquer coisa mais substancial. Não tem nada com mestrado?
- Peixes não, - mas tenho umas costeletas de vitela que estão a tirar o doutoramento em Oxford. Fritinhas e servidas com batatas da Católica ficam uma maravilha”.

O  saboroso diálogo bem podia fazer parte de um sketch a que os novos caloiros estariam sujeitos, se a Praxe académica tivesse outros contornos de entretenimento puro, o que não invalida a comicidade dos parodiantes em situações inventadas, na hora, pelos doutores.

Graças aos noviços da ESTGOH fiquei a saber que o balcão do bar onde alguns estudantes foram vítimas da Praxe, mede “quase” oitenta paus de fósforos; não acredito, apesar dos encarregados, na proporção de três para um (trabalhador), garantirem a autenticidade dos cinco centímetros de cada amorfo.
As dúvidas resultam do facto de, entre eles, apesar da sobriedade com que se apresentaram ao trabalho, não existir consenso quanto às metades que faltam ou sobram a cada ladrilho: que fazer aos sobejos dos ditos? Ou será que são pequenos em demasia?
Em defesa da lógica, o doutor Carlos Maia “Fiúza”, filósofo de ocasião, apontou uma garrafa de Porto e do alto da sua insigne sabedoria, discursa:
- Isto é simples: para mim, a garrafa está meia vazia; aqui para o Ginja, meia cheia!
O Ginja II, que tem jeito para o canto, apresentava-se com um estilo de penteado com tendências futuristas e deu nas vistas - pelo menos enquanto não visitou o barbeiro para acerto das escadinhas laterais, entre as orelhas e o cocuruto. Pensativo, o Ginja II, como se imagina, concordou com o mestre, não fosse este ordenar punição maior pela irreverência do contraditório.
A tertúlia compôs-se, segundo o grau e qualidade de quem ia chegando – pessoas ilustres e ilustradas pelo traje negro sem pergaminhos, por ora, a saber: doutores Hélder Pinto, Romeo (com o, sim senhor …) Vieira “Laurent Robert”, Bruno Gomes, e Carlos Maia ”Fiúza”, os engenheiros Santarém, “o campino”, Álvaro Ferreira, ”o músico”, a que se juntaram os afilhados Mi Gusto, Lloyd e Roger. Faltaram à chamada o doutor João Paiva, “o teórico da bola”, possivelmente a congeminar nova tática que possibilite vitórias ao seu clube, e o engenheiro João Bagorro, “o alentejano”, talvez a meio da única “imperial” do dia!
A coberto dos cuidados paternos, alguns ficaram no anonimato, como convém.
Para o Ludovic Costa, “o francês”, 23 anos de idade, licenciado em Económicas, voltar a ser caloiro em Engenharia Civil, “é obra”!
A ESTGOH começa a ser aliciante para a classe estudantil, daí que a Praxe se instale com cânones próprios - falta eleger o Dux Veteranorum!!
Perante “malta” de tal jaez, espera-se, em Oliveira do Hospital, um ano letivo recheado de bons costumes académicos.
Quanto às aulas, há tempo, “o ano só agora começou” – palavra de caloiro!

* Publicado em 2007  - https://ritualmente.blogspot.com/

... 2 "testemunhos

Que saudades!
De ser caloira e matar a formiga aos gritos! de ser doutora para poder praxar... sempre fui muito branda se os pudesse safar, safava...
O meu traje... a minha lapela amarela e cinzenta... a cartola... a bengala...
São apenas recordações!
Bom ano para os caloiros! Aos doutores muito estudo da fisica do levantamento da caneca!
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Que saudades...
Saudades, sim saudades... Quem diria que eu um dia viesse a escrever isso, eu que sempre fui "do contra". Mas é, tudo isso deixa imensas saudades:
Aquele café meio escondido onde passei grande parte do tempo (a trabalhar), conversar, cantar e as vezes até quem sabe se nao filozofava, e os meus pais pensavam que eu estava em casa tal um menino bem comportado a estudar! "Ai se eles soubessem" lamentava eu quando ja depois de acabar um certo Logan 12anos e ouvindo o melhor Ritualista dizer-me: "Ja estas lindo!"; pois é o Ritual deixa-me imensas saudades.
E aquelas pessoas que me acompanharam desde o inicio desta vida estudantil. Nao esquecendo os que me "apanharam" na recta final. A todos um eterno obrigado, nao eskecendo ninguem e começando pelo meu familiar mais proximo Sr. Carlos, Maia, Andreia, Roger, Ana(s), Helder, Lipinha, Teresinha, Madeirinha, e tantos mais.; pois é o essas pessoas todas deixam-me imensas saudades.

Ass.: Roméo (com o, sim senhor …) Vieira “Laurent Robert”

segunda-feira, 18 de março de 2024

A importância de se chamar Dulcineia



Do meu sítio vejo os novos moinhos de vento implantados na Serra do Açor. A bem do progresso e da economia, a paisagem está, em definitivo, alterada; o horizonte, se o céu não estiver escondido pelas nuvens, ficou estranho para quem entende pouco ou nada de energias renovadas.
Para sempre, desaparecem os moinhos que moíam os grãos. Os atuais aerogeradores são gigantes com uma “cabeça” a piscar de vermelho na noite; de dia descobrem-se as “velas” num movimento constante e pouco apressado, com a finalidade de converter a energia eólica em energia elétrica. Parte dela fará mover sofisticadas engrenagens com funções semelhantes às dos antigos moinhos dos moleiros, imagens ilustres da obra de Miguel de Cervantes, D. Quixote de la Mancha
O autor narra, entre outras aventuras, a luta de D. Quixote contra os moinhos de vento que o próprio confunde com gigantes.
Se Miguel de Cervantes existisse neste tempo de modernidades, a ponto de viajarmos a outros planetas, certamente teria dado outro sentido à sua imortal obra e era bem capaz de inventar outro personagem, talvez com a “mesma triste figura” do seu cavaleiro andante, mas por outras causas…
Imagino a “minha serra” do Açor como mote para estória novelesca, desvendando segredos, como os que estão associados à aldeia histórica do Piódão.
É por aqui que me fecho num silêncio absurdo sobre a paisagem, quase “morta” de gentes e animais – nem um corvacho a sondar do alto a ração do dia, muito menos um “moleiro”, se é que os houve por lá noutros tempos.
Conduzo devagar, a seguir a uma curva, descubro a aldeia, faço uma pausa na viagem e contemplo a realidade de um sítio de total encantamento. Cá de cima não vislumbro qualquer tipo de vida, como se o Piódão estivesse adormecido.
Continuo sem mais paragens até ao largo da Igreja. Depois, a pé, ando por ali numa espécie de solidão de bem-querer – desejo-a assim, que me faz bem à alma. Subo por uma rua minúscula e, na volta, o olhar perde-se no topo da serra e nos gigantes que “protegem” a aldeia…
Este momento único foi suficiente para reviver a estória do D. Quixote de la Mancha e do seu escudeiro Sancho Pança – duas personagens do imaginário fantástico de Cervantes.
Junto-lhe uma terceira, que nunca se “vê” na obra, mas sente-se a sua importância na vida apaixonada do cavaleiro: Dulcineia.
Estou, na vida, como D. Quixote de la Mancha em relação à figura que nunca viu – só dei conta disso num dia de Outono, no Piódão, aqui tão perto…
-
In 

RiTuAL(idades) - novembro 2008

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Uma cidade chamada Inès


 Volto à nostalgia para situar um ponto no Índico: Moçambique!

Foi naquele país encantado por deuses de múltiplas facetas estéticas que me descobri como homem; cresci e quase completava determinado ciclo da minha existência quando valores mais altos se levantaram e retornei, em boa companhia, à casa onde nasci neste ponto da Europa, longe do Atlântico que leva saudades à Baía do Espírito Santo em barquinhos de papel.
Em tempos nunca esquecidos, a "minha cidade"  teve nome de navegador: Lourenço Marques!
Fosse eu Pedro na lenda da Quinta das Lágrimas e teria chamado à minha cidade, Inês!

* Na falta de ondas e marés, sem correntes de feição, recorro à ciência deste tempo para estar mais perto da minha gente, e ouço os sons que chegam do outro lado do mundo, aqui mesmo - basta um "click" !
No serão da última noite, tive companhia de elevado grau e qualidade - do locutor de serviço ao homem da técnica, de Villaret a Manuel Alegre, de Pedro Abrunhosa à "ELisa Gomara Saia", interpretado por voz genuína, sem trejeitos.
...E o telefone mesmo aqui, à mão!
Num impulso, marco um número. Espero dois, três segundos:
- Bom dia, fala da Rádio Moçambique.
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Eram quatro da madrugada na "minha terra"...
*
Publicado em dezembro de 2005 no blogue  "ritualidades" - https://ritualmente.blogspot.com/2005/

sábado, 30 de dezembro de 2023

Insónias & pesadelos


É fantástico como no “silêncio do escuro” se pensa de forma profunda nos afrontamentos da vida e nas “soluções” para os problemas que carregamos diariamente!
Porém, quando vem a luz do dia,
ou se acendemos a lâmpada do candeeiro da mesinha de cabeceira,
aquilo que parecia ter lógica, deixa de ter, e as soluções, quando muito, não passam de hipóteses…remotas.
Quero dizer que devemos estar em permanente escuridão quando se procuram decisões para os problemas de vária ordem e qualidade?
- Nada disso - é importante que tudo seja feito às claras.
Se há uma solução para determinado coisa que atrapalha, vamos a ela!
…O pior é quando não se consegue enxergar uma luz ao fundo túnel e as insónias se confundem com pesadelos.
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Excerto da crónica publicada no "Correio da Beira Serra" no dia 25 de dezembro de 2007.
https://ritualmente.blogspot.com/2007/12/insnias-e-pesadelos.html

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Um sujeitinho que se julgava cocuana

... com um sinalzinho azul na testa, coisa rara!

Eu e o sinalzinho azul nascemos juntos no ano de 1945, algum tempo depois do fim da Segunda Guerra Mundial.
É fácil adivinhar a idade da minha “vetusta carcaça” e do sinalzinho azul...
Quando era rapazote, a professora Georgina e a mãe Natália, sobre a guerra, diziam coisas terríveis, e eu, só de ouvir, ficava aterrorizado. Deve ser por isso que me “transformei” em militante da Paz, solidário e fraterno “qb”…
Agora, em 2023, este sujeitinho é um cocuana que insiste na sua "militância psíquica" e dela não arreda pé… se a saúde mental se mantiver como está, relativamente ajuizada, por vezes trapalhona é certo, principalmente quando deixa no “tinteiro” nomes, datas, palavras e outras “ninharias” que faziam parte da meu fluente discurso. Ao que parece, já “não sei ler nem escrever, só soletrar (…)" por isso “preciso de ajuda” para me entender na qualidade de ancião, como determina a Organização Mundial da Saúde (OMS), que classifica o envelhecimento em quatro estágios:
- Meia-idade: 45 a 59 anos;- Idoso(a): 60 a 74 anos;
- Ancião: 75 a 90 anos;
- Velhice extrema: 90 anos em diante.
E é isto – eu, um sujeitinho que se julgava cocuana é... um ancião!

*
...Já agora, cito um poeta:
-“Quando morre um africano idoso é como se se queimasse uma biblioteca”. É com estas palavras que o poeta do Mali, Amadou Hampaté-Bâ, resume o valor atribuído ao velho na sociedade tradicional africana, cuja principal função é transmitir, oralmente, às demais gerações, a cultura e a sabedoria popular vividas no seio de cada comunidade”.

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Lateral direito






Para os "rapazes" do meu tempo de Lourenço Marques: esta vem do começo do "reinado" de Eusébio, do Fernando Brassard, Rui Rodrigues, Baltazar, Faruck e outros que vieram para Portugal e aqui fizeram carreira como jogadores da bola. O Brassard era guarda redes, jogou na Académica de Coimbra, os outros "jogavam pelo campo todo", marcavam golos. O meu "azar" foi ter iniciado o que podia ter sido uma carreira "eusebiana" como defesa direito e ficava por ali, raramente "ia à frente"! Aqui para nós: o jeito também não era muito - mesmo assim, "por acidente , fui à frente", e marquei um golo" durante o "brilhante percurso" de um ano na equipa de juniores do Sport, Lourenço Marques e Benfica!

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

A dança da avozinha

A correspondência entre os amigos deixou de usar os correios para chegar ao destino, o espaço virtual é instantâneo na oferta, e é por essa via que vamos sabendo uns dos outros. Simples e económico, mas sem o prazer do manejo da caneta sobre o papel e, para quem lê, a ânsia de receber das mãos do carteiro uma carta que seja, abri-la e ficar preso/a às palavras, há muito que deixou de ser hábito.
Felizmente há exceções, que confirmam a regra; a regra são os emails e os “SMS”, que "vêm pelo ar e aterram" no meu Toshiba a qualquer hora, muitas vezes sem nome no remetente, outras com endereços completamente desconhecidos. Felizmente, a Rosa (“Gita” para os amigos), que reside no meu sítio e a quem me liga uma saudável amizade, nunca se esquece de acrescentar o nome e o endereço…
Nos tempos de agora, é quase impossível recriar “ ao vivo” “O Carteiro de Pablo Neruda”, porque a poesia anda arredia dos amores, escritos a tinta e em maiúsculas, que tanto seduziam a bela Beatrice Russo; adiante – o melhor é ver o filme e deixar-se enamorar por ele, como o carteiro pela bela Beatrice
Volto à Rosa, que faz questão de presentear os amigos com emails bem-humorados, textos e imagens de gargalhar, o que, convenhamos, têm efeito placebo nas tristezas. Além disso, esta amiga acrescenta introdução da sua lavra à correspondência que lhe chega de outras paragens, o que valoriza o conteúdo do que se lê ou vê, um pouco ao jeito do meu amigo alentejano, da Amareleja, que “embrulha” as anedotas com risos e afins, garantindo finais de boa disposição.
O vídeo que agora a Rosa me enviou, onde uma sexagenária (?) rechonchuda torce e retorce o corpo ao ritmo cadenciado de “uma música maluca”, é capaz de espantar a gente nova menos afoita às danças moderna As imagens, só por si, são um fartote de risos, mas se lhe juntarmos a introdução desenhada pela Rosa, como adiante se verá, o "espetáculo” fica completo, até para os mais sisudos.
Sabe-se como são as pessoas mais idosas, sobretudo as senhoras que vivem no campo, para quem o ideal seria “sol na eira e chuva no nabal”. A partir de uma certa idade, o corpo fica mais pesado, não responde ao chamamento da enxada, vêm os achaques, falar em pé de dança é remetê-las à saudade de quando eram moças, os tempos mudaram, os bailes mandados ao som da guitarra do ti ‘António Pereira pertencem ao passado…e por aí fora – a viagem é longa nas lembranças. Foi “tudo isso” que a imaginação da “Gita” transformou nas palavras que acompanham as imagens:
- “Localizem-me esta MULHER!!!!!! Por favor!!!!!! Tragam-na p’ro Barril!!!!!! Please!!!!! Nunca mais se ouvia falar em médico de família, dói-me aqui, tenho que ir regar porque não chove, as couves nem crescem, porque não chove... as batatas....porque não chove!!!!!! CHIÇA!!!!!! Tragam-me esta MULHER!!!!!! Que animação! Do melhor”!
Publicado em junho de 2009 no blog "ESTÓRIAS DE TRAZER POR CASA" - 
https://ramosvilaca.blogspot.com/2009/06/danca-da-avozinha.html

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

A mulher da voz límpida e aprumada na sonoridade das palavras

 



                                   ...morava perto, numa casinha que ficava no caminho das Hortas



Tenho na memória da criança que eu era a voz de uma mulher, límpida e aprumada na sonoridade das palavras.
Dizia a mãe Natália que ela, a mulher da voz límpida e aprumada na sonoridade das palavras, cantava como a Amália – quem era a Amália?
A Amália cantava o fado - ouvia-se no rádio lá de casa.
A mulher da voz límpida e aprumada na sonoridade das palavras, não, não se ouvia no rádio, mas morava perto, numa casinha que ficava no caminho das Hortas, para agrado da mãe Natália, da avó Virgínia e da “minha cabeça” - era onde eu “guardava” as emoções, como o canto dos passarinhos, as meiguices de quem cuidava de mim, e a Banda Filarmónica, sobretudo quando tocava um certo Paso Doble que, se o ouvisse agora “voltava a ser criança”.
Um dia, meio século volvido, encontrei a mulher da voz límpida e aprumada na sonoridade das palavras, que cantava como a Amália. Falámos desse tempo e da sua “culpa” do meu agrado pela música que “guardo na cabeça”!
... É um vício que vem de criança.