sábado, 23 de novembro de 2013

Beijinhos no bico

Um dia, há centenas de dias atrás, tive um pombo correio em repouso no telhado da casa onde habitam outros pombos, uns brancos, todos brancos, dois pretos, todos pretos, e mais uns quantos vestidos de cinzento. E ainda por lá estão uns mestiços e dois castanhos, todos castanhos...
O pombo correio tem as penas pintalgadas de cinzento.
Nesse dia, há centenas de dias atrás, o pombo correio, que tem as penas pintalgadas de cinzento. desceu do telhado para junto dos outros, alimentou-se e voou sozinho.Voltou mais tarde, partilhou da mesma ração e voltou  a voar.
Entre idas e vindas, o pombo correio, que tem as penas pintalgadas de cinzento,  decidiu ficar na sua  nova morada...
Fui ao encontro do legítimo dono, para as bandas do norte. Pelo telefone prometeu que viria buscar o "... campeão" - nunca o fez, e o pombo pintalgado de cinzento, entretanto, constituiu uma nova família.
Como pai, foi sempre exemplar; como marido, nem tanto...
Um dia da semana passada encontrei-o trôpego: tem a pata esquerda partida...
Agora, o pombo correio pintalgado de cinzento  fica no chão e a sua companheira castanha, com  dois filhos a sair do ninho, dá-lhe beijinhos no bico...
Por mim, faço o que devo: pego no meu pombo correio, pintalgado de cinzento, e solto-o no ar.
Agora, o voo do meu pombo pintalgado de cinzento continua  a ter a mesma elegância mas termina no telhado...

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Prima direita

Começo o dia com a revista dos títulos de alguns jornais, passo à leitura dos assuntos que me parecem interessantes e continuo, manhã fora, entre o sobe e desce dos afazeres caseiros, como passar a ferro uma camisa com as mangas bem vincadas, à moda da mãe Natália...
Acabo de reter uma frase que me agrada:
- Deve-se cuidar da amizade, que é prima direita do amor!
Eu sabia que o amor também é isso - amizade. Nunca lhe conhecera o parentesco, até ler  " A Bola" de hoje... 

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A propósito de coisa nenhuma















A propósito de coisa nenhuma:
-  o amor é o que quero que seja
em cada gosto;
se gosto, amo;
se amo,digo...

domingo, 7 de julho de 2013

Nova ponte no ( meu) pensamento

construiu uma nova ponte  no  (meu) pensamento.
Não se pense que ela,
a  ponte, 
é imaginária - pelo contrário: 
tem formas, 
olha-se, 
sente-se, 
toca-se e aproxima as margens de um rio imenso, 
maior que o Zambeze. 
Apesar da enormidade do tamanho, viajar por ela, 
pela ponte do meu pensamento, 
é simples, 
rápido ( como um relâmpago!)
e não tem custos...

domingo, 2 de junho de 2013

O pirilampo

O sol entrou pela noite dentro, como se fosse o começo da Primavera,
ou  um dia de verão,
ou um dia de sol no inverno,
ou uma centelha de felicidade pelo avistamento  de um pirilampo - o primeiro durante as inúmeras  caminhadas  de silêncios, rua abaixo, rua acima.
Do outono gosto do chão  atapetado com  folhas de plátanos e da brisa que sopra dos lados do (meu) rio...


quinta-feira, 28 de março de 2013

Agora, os silêncios

Rir,
ou chorar,
sem ninguém por perto, 
é a  grande desculpa para o  desleixo nos arrumos das roupas que deixo sobre uma cadeira,
na esperança  de que retorne o hábito de as colocar nos sítios certos...
Agora, os silêncios  são feitos de ausências: nem choro nem rio.


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Eu, "branco de segunda” e “explorador de pretos”


Vai a televisão pública emitir uma série de programas sobre os portugueses que, depois da descolonização, regressaram da África portuguesa – como se não existissem, no tempo presente, melhores e actuais assuntos do interesse público …
Esse tempo, dos “retornados”, miseravelmente corridos a “toque de caixa” das terras que eram, para todos os efeitos, pátrias de adopção de muitos de nós, não pesam nas memórias da actual geração de portugueses, nada lhes diz, mas para quem sofreu as consequências de uma descolonização disparatada, é uma matéria sensível que ninguém deseja recordar.
Sem culpas no cartório, na matriz da minha consciência, durante vinte anos, plagiando Venicius de Moraes, fui “o branco mais preto de Moçambique”, “estatuto” que não me garantiu epítetos de lisonja, bem pelo contrário: em 1975, como se tivesse infestado de lepra, apelidaram-me de “branco de segunda” e “explorador de pretos”…
O destempero das palavras, ao invés  da malquerença, fez de mim um homem novo, fisicamente adaptado, emocionalmente não, NUNCA!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Delicadezas ao ouvido

Alguma coisa há-de ter feito o Governo para justificar a mudança radical das conversas de café, centros de saúde e, de certo modo, junto às caixas dos supermercados. 
Longe (?) vão os tempos dos versáteis temas,  qual deles o mais importante na vivência diária do comum dos cidadãos: novelas para as senhoras, futebol, minis e "gajas" para os senhores!
Basta estar atento e guardar na memória respigos da douta raiva de quem emite  ( a sua) opinião:
"- O que o Relvas merecia era um tiro....!"
"- O Passos é um imaturo, um jotinha, como o Seguro...!"
"- Quem governa é o Relvas, pior do que  Salazar...!"
"- Vou desistir da venda ( do peixe à porta do freguês), ninguém compra um carapau...!"
"- Na terra dele ( Relvas) ninguém gosta dele..."
"- Estou desempregada, mas o meu curso veio de cinco anos na Universidade, não foi tirado ao domingo...!"
"-Vou migrar para outras paragens, talvez para a Finlândia...!"
Manda o pudor que não cite de passagem outras delicadezas dedicadas ao Relvas...
O Relvas, sempre o Relvas, como se fosse o galã de uma novela da TVI,  craque do Barcelona, ou uma gaja boa. 
...Ou uma mini bem fresquinha!

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

2013: nasci num sonho


... Foi assim, num sonho,  que nasci em 2013:
Aceitei  o teu abraço  como se fosse único.
Talvez pela "força", talvez porque era teu, fez-me imenso bem,  tanto que sonhei com ele - acordei nele!
No sonho, mimei-te no silêncio da fantasia de uma paixão tão espiritual  que só "visto" !
Decididamente, vives em mim sem o saberes.
Quero-te tanto bem que nem sabes quanto...