quarta-feira, 17 de junho de 2015

"A última aula” de Randy Pausch





Se me perguntarem se sou feliz, respondo com naturalidade: sim e não – tudo depende do momento em que a pergunta é feita.
Não é necessária definição filosófica para termos a consciência do nosso estado de alma: contentamento, sensação de bem-estar, prazer, e um sem número de nadas que consubstanciam as emoções. Sendo certo que a felicidade chega sempre em pequenas doses e pelas mais diferenciadas vias, quando menos se espera…bate à porta: “…será chuva? Será gente? Gente não é certamente e a chuva não bate assim…” – Augusto Gil.
“Nem é vento com certeza…” mas pode ser a felicidade porque tem um “bater” suave e inebriante, assim:
Decide-se um primeiro encontro e, a páginas tantas, descobrem-se empatias nos olhares que sobram de cada conversa…
Espera-se o conhecimento das feições da pessoa que se adivinha espiritual e sensível na poesia das palavras que junta – o momento de satisfazer a curiosidade é sublime!...
Se “ela” diz que sim, como canta o poeta Viriato da Cruz no “Namoro” (que não me canso de citar!), aquele instante é divino…
A visita inesperada, o aumento de ordenado, uma agradável conversa, um opíparo jantar, uma noite de amor, o nascimento de um filho, … quanta felicidade – até no gesto de um cativante sorriso! 
Há, pois, em cada dia – mesmo que a vida se mostre “madrasta” – segundos de prazer que não contabilizamos por manifesta ganância: foi pouco, quase nada – queríamos mais, quase tudo, um “jackpot” constante e permanente! 
Se me perguntassem sobre a última vez em que fui feliz, diria: há pouco, quando li um belíssimo texto, embora curto, escrito na sombra do anonimato. Estou como certo sujeito que ia ouvir a “Flauta Mágica”, de Mozart. e abandonava a sala de seguida: ficava “saciado” para o resto do serão – assim estou eu neste principio de noite… 
Pensando bem… continuo moderadamente feliz porque a dor que tinha nas costas já não me apoquenta, a música que ouço “descansa-me” em absoluto, há pouco espreitei pela janela e vi o céu estrelado, o chá de cidreira fumega na chávena, e daqui a nada tentarei adormecer depois de ler umas quantas páginas de um dos livros que tenho à cabeceira, talvez…“A última aula”, de Randy Pausch. 
Dizer que estou “moderadamente feliz” implica assumir que, apesar de tudo, alguns pensamentos preocupantes estão adormecidos e talvez despertem, “travestidos em fantasmas”, antes do primeiro sono. Se isso acontecer, conto carneiros – dizem que é remédio santo para adormecer –, é melhor do que somar fantasmas. Acordar depois de uma noite de sobressaltos, não augura nada de bom para as primeiras horas do dia seguinte, o que não impede de sonhar com um bonito dia, mesmo que o céu esteja tapado por nuvens negras e a chuva persista, teimosa… 
“Não podemos escolher as cartas que nos são distribuídas, a nossa liberdade reside em saber jogá-las” – Randy Pausch, professor de Ciência Computacional. 
Morreu no dia 25 Julho, 2008, com 46 anos, vítima de um cancro no pâncreas 
Aconselho vivamente a leitura da “ A última aula”. 
… E, por favor, sejam felizes.
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Escrito no dia 10 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Na soleira de um número redondo

Estou na soleira de um número redondo, como determina  o calendário. Veremos se  franqueio a entrada às minhas memórias. Tenho a intenção de  consultar o deve e haver do livro caixa e conferir   o saldo do saco azul...
Há documentos  por arquivar, como estes, que registam outro número redondo: dez anos de utopias!
Feito de cobre, o baú das grandes memórias rebenta pela solda das costuras

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