sábado, 30 de dezembro de 2023

Insónias & pesadelos


É fantástico como no “silêncio do escuro” se pensa de forma profunda nos afrontamentos da vida e nas “soluções” para os problemas que carregamos diariamente!
Porém, quando vem a luz do dia,
ou se acendemos a lâmpada do candeeiro da mesinha de cabeceira,
aquilo que parecia ter lógica, deixa de ter, e as soluções, quando muito, não passam de hipóteses…remotas.
Quero dizer que devemos estar em permanente escuridão quando se procuram decisões para os problemas de vária ordem e qualidade?
- Nada disso - é importante que tudo seja feito às claras.
Se há uma solução para determinado coisa que atrapalha, vamos a ela!
…O pior é quando não se consegue enxergar uma luz ao fundo túnel e as insónias se confundem com pesadelos.
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Excerto da crónica publicada no "Correio da Beira Serra" no dia 25 de dezembro de 2007.
https://ritualmente.blogspot.com/2007/12/insnias-e-pesadelos.html

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Um sujeitinho que se julgava cocuana

... com um sinalzinho azul na testa, coisa rara!

Eu e o sinalzinho azul nascemos juntos no ano de 1945, algum tempo depois do fim da Segunda Guerra Mundial.
É fácil adivinhar a idade da minha “vetusta carcaça” e do sinalzinho azul...
Quando era rapazote, a professora Georgina e a mãe Natália, sobre a guerra, diziam coisas terríveis, e eu, só de ouvir, ficava aterrorizado. Deve ser por isso que me “transformei” em militante da Paz, solidário e fraterno “qb”…
Agora, em 2023, este sujeitinho é um cocuana que insiste na sua "militância psíquica" e dela não arreda pé… se a saúde mental se mantiver como está, relativamente ajuizada, por vezes trapalhona é certo, principalmente quando deixa no “tinteiro” nomes, datas, palavras e outras “ninharias” que faziam parte da meu fluente discurso. Ao que parece, já “não sei ler nem escrever, só soletrar (…)" por isso “preciso de ajuda” para me entender na qualidade de ancião, como determina a Organização Mundial da Saúde (OMS), que classifica o envelhecimento em quatro estágios:
- Meia-idade: 45 a 59 anos;- Idoso(a): 60 a 74 anos;
- Ancião: 75 a 90 anos;
- Velhice extrema: 90 anos em diante.
E é isto – eu, um sujeitinho que se julgava cocuana é... um ancião!

*
...Já agora, cito um poeta:
-“Quando morre um africano idoso é como se se queimasse uma biblioteca”. É com estas palavras que o poeta do Mali, Amadou Hampaté-Bâ, resume o valor atribuído ao velho na sociedade tradicional africana, cuja principal função é transmitir, oralmente, às demais gerações, a cultura e a sabedoria popular vividas no seio de cada comunidade”.

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Lateral direito






Para os "rapazes" do meu tempo de Lourenço Marques: esta vem do começo do "reinado" de Eusébio, do Fernando Brassard, Rui Rodrigues, Baltazar, Faruck e outros que vieram para Portugal e aqui fizeram carreira como jogadores da bola. O Brassard era guarda redes, jogou na Académica de Coimbra, os outros "jogavam pelo campo todo", marcavam golos. O meu "azar" foi ter iniciado o que podia ter sido uma carreira "eusebiana" como defesa direito e ficava por ali, raramente "ia à frente"! Aqui para nós: o jeito também não era muito - mesmo assim, "por acidente , fui à frente", e marquei um golo" durante o "brilhante percurso" de um ano na equipa de juniores do Sport, Lourenço Marques e Benfica!

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

A dança da avozinha

A correspondência entre os amigos deixou de usar os correios para chegar ao destino, o espaço virtual é instantâneo na oferta, e é por essa via que vamos sabendo uns dos outros. Simples e económico, mas sem o prazer do manejo da caneta sobre o papel e, para quem lê, a ânsia de receber das mãos do carteiro uma carta que seja, abri-la e ficar preso/a às palavras, há muito que deixou de ser hábito.
Felizmente há exceções, que confirmam a regra; a regra são os emails e os “SMS”, que "vêm pelo ar e aterram" no meu Toshiba a qualquer hora, muitas vezes sem nome no remetente, outras com endereços completamente desconhecidos. Felizmente, a Rosa (“Gita” para os amigos), que reside no meu sítio e a quem me liga uma saudável amizade, nunca se esquece de acrescentar o nome e o endereço…
Nos tempos de agora, é quase impossível recriar “ ao vivo” “O Carteiro de Pablo Neruda”, porque a poesia anda arredia dos amores, escritos a tinta e em maiúsculas, que tanto seduziam a bela Beatrice Russo; adiante – o melhor é ver o filme e deixar-se enamorar por ele, como o carteiro pela bela Beatrice
Volto à Rosa, que faz questão de presentear os amigos com emails bem-humorados, textos e imagens de gargalhar, o que, convenhamos, têm efeito placebo nas tristezas. Além disso, esta amiga acrescenta introdução da sua lavra à correspondência que lhe chega de outras paragens, o que valoriza o conteúdo do que se lê ou vê, um pouco ao jeito do meu amigo alentejano, da Amareleja, que “embrulha” as anedotas com risos e afins, garantindo finais de boa disposição.
O vídeo que agora a Rosa me enviou, onde uma sexagenária (?) rechonchuda torce e retorce o corpo ao ritmo cadenciado de “uma música maluca”, é capaz de espantar a gente nova menos afoita às danças moderna As imagens, só por si, são um fartote de risos, mas se lhe juntarmos a introdução desenhada pela Rosa, como adiante se verá, o "espetáculo” fica completo, até para os mais sisudos.
Sabe-se como são as pessoas mais idosas, sobretudo as senhoras que vivem no campo, para quem o ideal seria “sol na eira e chuva no nabal”. A partir de uma certa idade, o corpo fica mais pesado, não responde ao chamamento da enxada, vêm os achaques, falar em pé de dança é remetê-las à saudade de quando eram moças, os tempos mudaram, os bailes mandados ao som da guitarra do ti ‘António Pereira pertencem ao passado…e por aí fora – a viagem é longa nas lembranças. Foi “tudo isso” que a imaginação da “Gita” transformou nas palavras que acompanham as imagens:
- “Localizem-me esta MULHER!!!!!! Por favor!!!!!! Tragam-na p’ro Barril!!!!!! Please!!!!! Nunca mais se ouvia falar em médico de família, dói-me aqui, tenho que ir regar porque não chove, as couves nem crescem, porque não chove... as batatas....porque não chove!!!!!! CHIÇA!!!!!! Tragam-me esta MULHER!!!!!! Que animação! Do melhor”!
Publicado em junho de 2009 no blog "ESTÓRIAS DE TRAZER POR CASA" - 
https://ramosvilaca.blogspot.com/2009/06/danca-da-avozinha.html

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

A mulher da voz límpida e aprumada na sonoridade das palavras

 



                                   ...morava perto, numa casinha que ficava no caminho das Hortas



Tenho na memória da criança que eu era a voz de uma mulher, límpida e aprumada na sonoridade das palavras.
Dizia a mãe Natália que ela, a mulher da voz límpida e aprumada na sonoridade das palavras, cantava como a Amália – quem era a Amália?
A Amália cantava o fado - ouvia-se no rádio lá de casa.
A mulher da voz límpida e aprumada na sonoridade das palavras, não, não se ouvia no rádio, mas morava perto, numa casinha que ficava no caminho das Hortas, para agrado da mãe Natália, da avó Virgínia e da “minha cabeça” - era onde eu “guardava” as emoções, como o canto dos passarinhos, as meiguices de quem cuidava de mim, e a Banda Filarmónica, sobretudo quando tocava um certo Paso Doble que, se o ouvisse agora “voltava a ser criança”.
Um dia, meio século volvido, encontrei a mulher da voz límpida e aprumada na sonoridade das palavras, que cantava como a Amália. Falámos desse tempo e da sua “culpa” do meu agrado pela música que “guardo na cabeça”!
... É um vício que vem de criança. 

terça-feira, 22 de agosto de 2023

O “milagre” dos cavaquinhos

 

Eram dois os pequenos “atores” e uma ternurenta cena: o mais velho enlaça o outro, pequenote.
Noto que trocam palavras, possivelmente sobre a Tuna de Coja, em plena atuação no “improvisado palco”, pertinho do público.
… Possivelmente, os dois meninos eram os mais atentos e interessados no espetáculo.
Aproximo-me em silêncio…
O fascínio deles estava por conta dos cavaquinhos!
“Adivinho” a conversa, que não ouvi:

- “…as senhoras tocam com um brinquedo “muita” giro”!
- Não é giro? Chega-te aqui, mais perto: gostavas de ter um brinquedo daqueles?
- Simmm…
- Eu também gostava de um brinquedo assim…
- Escuta: 
-Tlim, tlim, tlimmm… é giro, não é?
 Um pouco mais tarde
Uma das senhoras da Tuna deixou que o menino  crescido afagasse o cavaquinho,  emprestou-lhe a palheta, e disse:
- Tens de fazer assim: 
-Tlim, tlim... tlim, tlimm…
 
Os meninos sorriram!
- Tlim, tlim... tlim, tlimm…
...
Naquela noite, durante o sono, nos sonhos, os dois meninos, com os seus novos brinquedos, tocaram cavaquinho na Tuna de Coja ou de outra terra qualquer
… talvez de Pomares - foi aqui que tudo "começou"!
_
cr