sexta-feira, 31 de março de 2017

Um punhado de terra

Dou comigo a reviver estórias vividas no “outro lado do mundo”.
Desse mundo sobram recordações do menino que aí cresceu e se fez homem entre “matateus e eusébios”, e partiu à descoberta do futuro nas asas do mítico concerto de Woodstock, em Agosto de 1969. 
No “outro lado do mundo” nasceram e morreram paixões - menos os sonhos da “Pedra Filosofal” de António Gedeão...
É por isso que guardo um punhado de terra “desse lado”; quando chegou, mergulhei nela o olfato e as duas mãos, quase em êxtase!

Quem cala a emoção?

 "(...) calar uma emoção tão salutar como a inveja, que é o desejo de estar melhor (e não necessariamente o desejo de o outro estar pior), leva a quê? Ao sufoco, à castração emocional…” -   Rui Zink.


quarta-feira, 29 de março de 2017

“Pronúncia do Norte”

Nascem sonhos durante o sono que “só visto”, 
quer dizer: 
- são mesmo sonhos, sem pitada de verdade. 
Os sonhos 
que surgem do nada, 
dependem das memórias que guardamos 
e  os sonhos trazem à luz do dia 
(neste caso, à “luz” da noite…). 
Guardamos memórias, 
é verdade, 
e sonhos que são autênticos sonhos, 
como ganhar um grande prémio  no euromilhões!
Na noite passada, 
de tantas rosas me passarem pelas vistas, 
tive um sonho lindo, 
lindo de sonhar 
– tão lindo que, 
quando acordei 
dentro dele, 
estava preso num abraço inteiro...
em que nada fica(va) de fora... 
(De beijos com sabor a “flor do jasmim (…),
“ à Clarck Gable e Vivian Leight”, 
silêncio absoluto).
Um abraço 
assim 
só pode ter 
pronúncia do Norte”! 
Por mais voltas que dê à "moleirinha" 
não encontro a Sul, Este ou Oeste 
outro sonho com este perfume, 
que era autêntico 
- juro que era. 
Nada de Chanel, talvez Je Reviens, a fragrância dos meus vinte anos….
Há sonhos 
que nem sonhados 
são/foram “reais”!

segunda-feira, 27 de março de 2017

Cimbalino à moda do Porto

Mesmo por cima da minha cabeça, a quilómetros de altura, uns quantos aviões, diariamente, insistem em percorrer os mesmos caminhos, entre a partida e a chegada; eu estou no "meio" da provocação  dos meus sonhos: Açores e Maputo são os  "próximos destinos",  mas ninguém os adivinha. Como não tenho maneira de me fazer ouvir daqui de baixo, os aviões nem "param" para a boleia que lhes peço,  dedo grande no ar...
... O melhor é embarcar num "expresso"  e  sair no Porto. Tenho prometido um "cimbalino" para quando me der jeito a viagem.

(Adaptação de uma croniqueta publicada em outubro  de 2012)

segunda-feira, 20 de março de 2017

Uma flor - uma bela flor

Determinada flor é, em primeiro lugar, uma renúncia a todas as outras flores. E, no entanto, só com esta condição é bela.
Antoine de Saint-Exupéry

domingo, 19 de março de 2017

Quando sorrir é o melhor disfarce

Fui a uma  consulta de cardiologia.
O médico que me recebeu era simpático e  competente - estou  certo disso...
Não apresento queixas, mesmo assim entendeu que o colesterol precisava de uma ajudinha para vir por aí abaixo na escala dos valores que considera ideais para quem tem problemas cardíacos, como é o meu caso. Vai daí, alterou-me a medicação e foi explicando, tintim por tintim, como serão úteis as diversas substâncias que compõem os novos comprimidos, possivelmente minúsculos, como eram os anteriores.
Fixo a posologia, mas quando percorre caminhos enviesados para o meu entendimento, limito-me a ouvir “palavrões” do estilo: Rosuvastantina, Ezetimiba, Perindopril
Continuo “sem fala”. 
- “Percebeu?”, perguntou - quer que lhe responda com um sim, não, ou talvez, e eu sorrio, que é a melhor das respostas quando se é leigo no assunto. Acho que todos nós, os doentes, e mesmo aqueles que o não são, devemos "responder" ao médico com um sorriso. O doutor não se obriga a grandes explicações, se dissermos “não, não percebi patavina”, ou então, “sim, senhor doutor, percebi” , ele sabe que estamos (quase sempre) a mentir. Portanto, "sorrir amarelo" é uma boa resposta (se fosse verde, era sinal de que tínhamos percebido; vermelho, seria o mesmo que dizer “troque isso por miúdos"...).
Um "sorriso colorido" é, pois,  a salvação de quem está perante alguém que sabe mais do que nós sobre qualquer matéria, a não ser que estejamos numa sala de aula, onde o mestre tem por missão ensinar e o aluno aprender...

terça-feira, 14 de março de 2017

Nas asas do sonho, a caminho do Piódão

No dia 31 de Março de 2009 fiz publicar no "Correio da Beira Serra" (http://www.correiodabeiraserra.com/nas-asas-do-sonho-a-caminho-do-piodao/)  esta croniqueta, que volta à luz do dia depois de alguns acertos; os caminhos estão bem melhores e o Piódão ganhou nova alma depois das obras de requalificação. O texto original continua fiel ao "convite" que fiz  à "Lena" - era, é, e continua a ser uma amiga que muito prezo...
...E como a Mata da Margaraça comemora 35 anos da Área Protegida da Serra do Açor,   o convite, desta vez,  inclui um chá da carqueja da "minha" serra...

“Lena”:
Há dias lembrei-te as férias que Agosto coloca no passaporte; agora sugiro que vás para fora… cá dentro!
Como o vai/vem das ondas do mar cansa alguns sentidos, e a “tua” serra tem as vertentes pouco íngremes, convidei-te, se bem te lembras, para uma visita ao Piódão, que fica logo ali, do outro lado da “minha” serra.
Se decidires aceitar o convite, ficam garantidos horizontes fascinantes, para lá de todos os montes, precipícios de meter medo e, bem lá no fundo, aldeias inteiras que nem imaginas com vida – mas ela existe, e as pessoas sobrevivem às custas daquilo que a terra dá e pouco mais…
Aconselho o percurso mais curto; se vieres desses lados, de cima, entra por uma das” Portas do Açor”, em Coja, ou pela “outra Porta", no Barril de Alva; segue em frente e fica atenta às  placas que indicam Benfeita; segues… segues… segues e logo encontras a pitoresca Benfeita. Continua até à "Fraga da Pena" - visita obrigatória. A seguir, Pardieiros. Faz uma pausa e vai "bisbilhotar" o artesanato - compra uma colher de pau do tamanho que te der mais jeito transportar,  e prossegue a viagem até à Mata Nacional  da Margaraça - mais uma paragem obrigatória. Com sorte, talvez encontres o Nuno, responsável pelas visitas guiadas; simpático, o Nuno é o cicerone da Mata, muito qualificado para o efeito. A seguir, Monte Frio, lá no alto. O Piódão é para “este lado”, para a direita...
Se vieres com sede de água fresca, a meio da viagem tens a fonte do “Pião”; da mão fazes concha, e bebes até doer a garganta, porque a água chega gelada ( ou quase…).
Com a sensibilidade à flor da pele, já deste como boa a minha sugestão, e ainda não chegaste ao alto do Piódão, falta pouco…
Não te apresses … parece que te deu uma “coisa”: num segundo ficas com o olhar preso naquele amontoado de casas escuras, muito juntinhas – parecem uma só, com muitas dependências!
Pára e olha, com os olhos da alma...
Então, não dizia? Ficaste sem palavras perante o panorama incomensurável que vais guardar para todo o sempre no arquivo da memória!
Antes de desceres, deves perfilar-te perante a lembrança dos passos de Miguel Torga, que por ali andou e aí se “despediu de Portugal”, “com o protesto do corpo doente pelos safanões tormentosos da longa caminhada…”. A “pedra bruta”, com a frase completa, está mesmo aí, à tua frente, depois daquelas urzes, vês?
Continua a viagem devagar; se decidires pernoitar na Pousada do Inatel, garanto o silêncio dos montes, a gentileza e o profissionalismo do pessoal.
Finalmente, Piódão!
Repara no casario com o xisto à vista, exceto a Igreja - o monumento tem o branco de todas as purezas, como  o ar que respiras...  
A partir daqui, não te conduzo os passos, mas vai por mim dar uma palavrinha ao senhor Lourenço, que tem uma venda com o seu nome. Mas só uma palavrinha; se for com a tua cara (é que vai mesmo, sendo tu como és…) não te larga com estórias – mais de mil! - que diz ter escritas em setenta agendas! Já agora, dá um salto ao “Solar dos Pachecos” e prova um dos deliciosos licores que tens à disposição, mas aquilo trepa, se abusares, já sabes...
No regresso, sugiro que sigas em direção a Vide. É mais longe, mas compensa.
A meio caminho, encontras Chãs d’ Égua. Vai com tempo para ficares largos minutos na descoberta de vestígios de Arte Rupestre. Mais à frente, Foz d’Égua - casas, pontes, uma delas suspensa, única. Tudo parece arrumado no tempo, à exceção das estradas e caminhos por onde se chega mais rápido – estradas e caminhos que a população usou para fugir das leiras, das encostas, dos animais que parece nunca terem existido, e das pedras, das pedras com as quais se construíram casas… cobertas de pedras.
Para voltares basta seguires as “placas”, mas se trouxeres o GPS, nem delas precisas!
Convencida?

quinta-feira, 9 de março de 2017

O "Manel" do talho

O vendedor de automóveis mostrava um dos modelos do catálogo, com ele à mão de semear…
- Pode entrar, espreite, é extramente cómodo.
- Não vale a pena, estou muito bem servido com o meu Toyota…
- Isso é um carro que nunca mais acaba!
Concordei. Mais palavra, menos palavra, e chegámos à despedida, não sem antes ser presenteado com todos os contatos do meu ocasional parceiro de conversa -“se quiser dar uma volta…. não, não obrigado… “.
- Bom, tenho de ir -foi um prazer conhecê-lo. Até chegar à Lousã  ainda  vou visitar alguns clientes.
- Mora na Lousã?
- Moro. Não sou de lá, mas é como se fosse – casei lá.
- Sabe quem é o “Manel” do talho?
- Claro, quem não conhece o senhor “Manel”? É uma excelente pessoa, tem feito bem a muita gente. É uma figura muito estimada na Lousã. Esteve no clube, na Santa Casa...
O vendedor de automóveis ficou sem pressas e folheou memórias, com o “Manel” do Talho dentro delas…
- Também conhece o senhor “Manel”?
- Conheço, somos amigos. Tem toda a razão, é como diz - uma excelente pessoa. Aliás, toda família é excelente. Além de amigos, somos compadres….
O vendedor de automóveis, a esta hora, já deve ter chegado a casa …

quarta-feira, 8 de março de 2017

Torradinhas com manteiga


...por ser hoje e todos os outros dias 
o "dia universal de todas as mulheres"
*
Madrugou o dia tão sereno como a alma de qualquer justo. 
Abri as janelas  e deixei entrar o sol - está tudo  perfeito, até o mundinho minúsculo, que faço meu, como se fosse único. E é, só meu e único!
O galo dos vizinhos desperta a manhã silenciosa e faz dela, 
da manhã silenciosa,
um tempo perfeito - o canto do galo é perfeito. 
...Mais do que perfeito, sem silêcncios, seria a voz dela ao pequeno almoço a dois, com torradinhas morenas barradas  com manteiga, servidas  em sorrisos de Lalique.
Sem ela, 
a voz, 
restam as torradinhas morenas barradas com manteiga.

terça-feira, 7 de março de 2017

"Que nunca mais pare quieto"


Por "defeito" vi a final do Festival da Canção da RTP e ainda bem - fiquei a conhecer o Salvador Sobral, o vencedor,  e fiquei fã. 
Depois, fui saber mais sobre  esta personalidade  que, goste-se ou não da canção "Amar Pelos Dois", do estilo e da voz do intérprete, fica na  história  dos festivais como "espécie rara" da simplicidade.Tiro o meu chapéu ao Salvador, como já inha feito à irmã Luisa...
Li no "Público" - com a devida vénia, faço das palavras coisa minha:
"Salvador Sobral é esse artista desde que o ouvi cantar pela primeira vez. Fez-me logo lembrar, pela sensibilidade e pela abertura musical, o jovem Frank Sinatra quando tinha a mesma idade.
Não é preciso acesso às gravações: basta vê-lo no YouTube em qualquer fase da carreira dele. Acompanhamo-la a apanhar as músicas e a torná-las dele e de quem as ouve. É maravilhoso ver como ele se surpreende com o próprio talento, deixando--se enlevar e levando-nos com ele.
Viva Salvador Sobral! Que nunca mais pare quieto".

sábado, 4 de março de 2017

Os "sete magníficos"

Longos meses tem o ano ...
Faço contas e,  incrédulo, concluo  que há mais de uma década  não partilhava o convívio fraterno de alguns  amigo, nem  a bebericar um simples café, como aconteceu esta tarde.
Do combinado encontro de hoje, vieram os abraços dos  "sete magníficos" Carlos Dias, Rodrigues Gonçalves, Jorge Passos, Francisco Garcia, Manuel da Costa, Alípio de Melo e Manuel Casimiro. Sem reservas, livres e de bons costumes, partilhámos memórias  e conversas de ocasião, recordámos os ausentes  e ficou a promessa  de que, não tarda, havemos de prolongar outra tarde, a começar  pelo almoço tertuliano e os "rituais da ordem" à sobremesa...

O segredo

Gabriel Garcia Márquez diz que o "segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão".
Nada é imutável, até os pactos com a solidão...

sexta-feira, 3 de março de 2017

Parabéns à Mata (da Margaraça)

Serra do Açor - Paisagem Protegida  

Hoje, sexta feira, 3 de Março, a chuva não permitiu que o programa comemorativo dos 35 Anos da Paisagem Protegida da Serra do Açor fosse cumprido na íntegra, com a participação das crianças do Agrupamento de Escolas de Arganil.

"A classificação da Paisagem Protegida da Serra do Açor (PPSA) em 1982,  teve como principal objetivo a proteção dos valores naturais, culturais, científicos e recreativos aí presentes.
(…) A sua criação resultou de um longo processo, em que o objetivo central foi a preservação da Mata da Margaraça, onde se inclui a Fraga da Pena - várias quedas de água ao longo de um curso de água permanente, constituindo um local de grande importância paisagística (…)".
-
Texto recolhido no portal do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF)

quarta-feira, 1 de março de 2017

Ainda ontem era menino...


... apetece-me ser assim - eu no retrato

O peso dos anos tem a importância e o valor do trajeto que percorremos. O carrego pode ser pesado se a vida foi madrasta, leve se a fortuna teve sorrisos de boa vizinhança. A memória é o arquivo de todas as coisas - das brincadeiras com o pião aos futebois no largo da escola, das reguadas da professora Georgina aos seus preciosos ensinamentos, do liceu ao primeiro emprego, da primeira namoradinha ao grande amor adolescente, dos passarinhos presos nas armadilhas, aos mergulhos no rio, ao Américo Cigarrada (...os peixes que agarrava à mão, no "meu" rio, só para me satisfazer os desejos!...), à avó Virgínia, à mãe Natália, aos filhos, aos netos, à reforma….. uffffffffff, ainda ontem era menino…
*quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016