quinta-feira, 24 de agosto de 2023

A mulher da voz límpida e aprumada na sonoridade das palavras

 



                                   ...morava perto, numa casinha que ficava no caminho das Hortas



Tenho na memória da criança que eu era a voz de uma mulher, límpida e aprumada na sonoridade das palavras.
Dizia a mãe Natália que ela, a mulher da voz límpida e aprumada na sonoridade das palavras, cantava como a Amália – quem era a Amália?
A Amália cantava o fado - ouvia-se no rádio lá de casa.
A mulher da voz límpida e aprumada na sonoridade das palavras, não, não se ouvia no rádio, mas morava perto, numa casinha que ficava no caminho das Hortas, para agrado da mãe Natália, da avó Virgínia e da “minha cabeça” - era onde eu “guardava” as emoções, como o canto dos passarinhos, as meiguices de quem cuidava de mim, e a Banda Filarmónica, sobretudo quando tocava um certo Paso Doble que, se o ouvisse agora “voltava a ser criança”.
Um dia, meio século volvido, encontrei a mulher da voz límpida e aprumada na sonoridade das palavras, que cantava como a Amália. Falámos desse tempo e da sua “culpa” do meu agrado pela música que “guardo na cabeça”!
... É um vício que vem de criança. 

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