segunda-feira, 28 de maio de 2018

O grito do "Tarzan"


O Duarte é assim… uma espécie de meu sobrinho.
Menino ladino e irrequieto (como convém), se tem uma bola por perto, dá uns toques "à Ronaldo", e quando a cama elástica tem espaço para mais um, salta, volteia no espaço - brinca, brinca e brinca (como convém).
Todos os meninos como o Duarte são assim, sadios, alegres e felizes, E os que têm menos do que tem o Duarte, o Kiko e a Nôno, os primos, são outros meninos…
Domingo, no aniversário da Nônô, como de costume, o Duarte fez parte da festa. Depois de uma sessão de saltos “acrobáticos”, uns minutinhos de pausa para recuperar forças. O Duarte, cansado e suado, tirou a tee Shirt, e eu, “tio emprestado”, provoquei-o com doçura:
- Ah… Tarzan!
Ao jeito do herói da minha adolescência, sem delongas, o Duarte brindou-me com um grito... “à Tarzan”, como se prova pela imagem.
Da Jane, a existir, nem sinal…

sábado, 26 de maio de 2018

Milagre da multiplicação

A  Smooth FM não brinda os ouvintes com a constância de interlúdios publicitários maçadores – e dá música a meu gosto. Tenho-a por companhia.
Leio, escrevo, e faço a faxina da casa na maior das calmas - abomino velocidades (talvez pela minha qualidade setentinha…) – quando a mente  diz para dar corda aos sapatos e aos neurónios.
E cuido do jardim - pago a quem cuida do quintal, que é enorrrrrrrrrrrrrme!
O quintal, enorrrrrrrrrrrrme!
Ainda nas calmas,   na semana passada, tratei um pedaço de terra, rasguei-a com  uma enxada em tempos usada por gigantes, e  deixei nos sulcos pedaços de batatas greladas. 
… Não tarda, tenho batatas biológicas no prato.
E feijão verde também!
O jardim tem rosas biológicas de várias cores.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

O Labirinto da Saudade - o filme



Vi o anúncio na RTP, registei dia e hora, e hoje, quarta-feira, no conforto do sofá, não perdi um gesto, uma palavra, uma vírgula – nenhum pormenor! - do documentário O Labirinto da Saudade, baseado no livro escrito pelo maior pensador português da atualidade: Eduardo Lourenço.

Da excelência do filme, no seu todo, haja quem enalteça as maiores virtudes da produção, que não eu, pela ausência de conhecimentos sobre “arte de fazer” cinema. Quanto à sensibilidade do argumento, que me tocou com intensidade, dei comigo afundado no sofá por longos minutos depois da ficha técnica ter chegado ao fim, pensativo...
O Labirinto da Saudade vai estar nas salas de cinema – a não perder!
Remeto o (a) leitor (a) para o texto, igualmente excelente, do “Observador”, intitulado
“ Eduardo Lourenço: 95 anos como filósofo do nosso labirinto”.


https://observador.pt/2018/05/23/eduardo-lourenco-95-anos-como-filosofo-do-nosso-labirinto/

António Arnaut : "Canto de Job"







Falava-se de Torga e das memórias da sua passagem pelo meu concelho, Arganil. 
A Editorial Moura Pinto apresentava com pompa ”Canto de Job” - um conjunto de poemas superiormente "enlaçados no abraço” fraterno de  António Arnaut, o autor. Exemplares eram 250, coube-me em sorte ficar com  o  69, assinado por si.
No Mosteiro de Folques, a festa era de  qualidade, não pela festa, mas  pela qualidade dos presentes. Ao jantar, fados de Coimbra e palavras de circunstância.  António Arnaut, a esposa e eu na mesma mesa. Há lembranças que retemos na memória pela importância das palavras. Ou dos atos…
Na presença do futuro Grão - Mestre do Grande Oriente Lusitano, qualquer tempo de partilha do (seu) conhecimento era escasso - como naquele dia, na “Quinta do Mosteiro”.
- Partiu para o Oriente  Eterno  no dia 21 do mês corrente.



quinta-feira, 17 de maio de 2018

Sem jeito nem força, mas com imaginação


Apesar de pequenote e franzino, com oito, nove anos de idade, tinha (alguns) gostos bem definidos, como “ser do Benfica”  nos futebóis jogados no largo da escola, ou no olival do Vale Poleireiro …
Vá lá saber-se qual a força maior que me levou à paixão pelo jogo da bola e pelo clube da camisola vermelha, a ponto de, aos domingos à tarde, de livre vontade, ficar “encarcerado” numa sala a ouvir o relato do “meu” Benfica, concentrado no jogo como se estivesse no estádio – e estava, mas no “estádio” que recreei na ardósia que usava na escola.
Sendo retangular, a “pedra” era o recinto de jogo onde desenhava as balizas e outros pontos de referência. Atento ao relato, imaginava as jogadas e, com  o lápis,  seguia o percurso da bola. A “visão” que tinha do jogo era tão “perfeita” que, à segunda-feira, discutia com os colegas da escola os pormenores dos golos, quando os havia…
Partilhei os “estádios” da minha ardósia, largos e outros campinhos de ocasião da aldeia durante dois anos; depois fui “transferido” para o então liceu D. João III, em Coimbra. Perto, havia (e há) um campo a sério, o Santa Cruz, espécie de amor de perdição da malta sempre que havia uma “borla”, fuga às aulas, ou depois delas. Foi no Santa Cruz que me transformei em “futebolista”, dos que correm mais  do que a bola!
Anos depois, já adolescente, em Lourenço Marques, passei a jogar a sério no “meu” Benfica… de lá. O emblema era igualzinho ao de Lisboa, a camisola tinha a mesma cor, mas… não era a mesma coisa.
Depois dos jogos, um sumo e uma sandes – não era nada mau!
… Mas o que fez com que tivesse “passado ao lado de uma grande carreira futebolística” foi a falta de jeito para as fintas e a ausência de força no chuto. Mesmo assim, uma vez marquei um golo. Foi cá uma festa…


terça-feira, 15 de maio de 2018

Amor (im)perfeito


"... - Olá, bom dia! - disse ele.
Era um jardim cheio de rosas.
- Olá, bom dia! - disseram as rosas..."
Principezinho

Gabriel Garcia Márquez "aconselhou-me" para nunca deixar de sorrir "(...), nem mesmo quando estiveres triste, porque nunca se sabe quem se pode apaixonar pelo teu sorriso"
Mais consentâneo com a (minha) realidade, sigo à risca as palavras do Nobel da Literatura:
- "O segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão"
-
Adaptado de um texto escrito e publicado em abril de 2011

domingo, 13 de maio de 2018

...Portugal "ganhou" (outra vez)

Por razões muito pessoais, o Festival da Eurovisão da Canção (não este, mas o que se realizou em 1979, em Israel) é um assunto que não deixo de acompanhar de longe, pela TV. Como jornalista credenciado,  "estive por dentro" de um;  acredito que nem tudo mudou, desde aquele recuado tempo - mudou, sim, a grandiosidade, o aparato de cena, muito embora, em Jerusalém,  a final tenha sido de excelência. 
Quanto às "cantigas", é sempre mais do mesmo - estou de acordo com Vitor Belanciano, que escreve no Público de hoje, domingo: "... É como se tudo fosse estranho às próprias canções. É a encenação que as serve e não o contrário..."
Também "assino por baixo" o título que  o  jornalista do Público dá à peça: "Votou-se em Israel, mas Salvador Sobral e Portugal ganharam outra vez".

Salvador e Caetano cantaram "Amar Pelos Dois"
- FRANCISCO LEONG -
(BLITZ)
(Ler mais: https://www.publico.pt/2018/05/13/culturaipsilon/analise/votouse-em-israel-mas-salvador-sobral-e-portugal-ganharam-outra-vez-1829869)

sexta-feira, 11 de maio de 2018

"Lulu", a raposa


La Fontaine por certo não teria desdenhado juntar às suas fábulas a estória da raposinha que vem todos os dias – e à hora certa, mais minuto menos minuto! – “jantar” ao restaurante “Vale dos Amores”, perto de Fiais, na freguesia de Ervedal da Beira. Se os “animais falassem”, seria curioso conhecer de “viva voz” o que vai na cabeça da raposinha para se entregar de “corpo e alma” à gentileza da sua presença, que já se tornou um hábito. O proprietário do restaurante, Humberto Cerejeira, conta como tudo começou:
-“ Eu e a minha mulher, há uns quatro meses, começámos a notar que o saco do lixo aparecia rasgado. Pensávamos que era obra de algum cão que andasse por aí, de noite, mas um dia a minha esposa viu a raposa perto daqui e não fez nada para a assustar; então, o animal foi aparecendo, dávamos restos de carne, e ela acostumou-se a nós”.
O Humberto, carinhosamente, batizou-a de “Lulu”. No dia em que a reportagem do “Correio da Beira Serra” se deslocou ao Vale dos Amores, já a tarde caminhava para a noite, o restaurante tinha a esplanada bem composta de clientes, alguns deles, conhecedores da notícia, eram repetentes. A primeira surtida da raposinha tinha acontecido minutos antes, mas ficou a promessa do Humberto que “… não tarda por aí, é uma questão de esperarem um pouco mais, porque ela pega no pedaço de carne e vai, possivelmente, esconder, nunca come perto de nós…”.
A “Lulu” não tardou, os clientes mais atentos viram-na chegar; fez uma pausa a uns metros de distância, e como ninguém lhe fez negaças, aproximou-se devagar, orelhas levantadas e o olhar atento ao mais pequeno movimento.
-“Lulu”, toma – diz o Humberto – e o animal, sem pressas, aproximou-se por entre as mesas, abocanhou o seu quinhão de carne, e voltou, nas calmas, pelo mesmo caminho. A cena repetiu-se várias vezes, mesmo quando a ração era entregue por uma criança. Por vezes ficava parada perto da esplanada, como se esperasse que o “padrinho” a “convidasse” a entrar – só ele e a mais ninguém a raposinha “respondia”.
Numa floreira alta que fica perto, o Humberto escondeu um pedaço de carne; ela aproximou-se, um pequeno salto, farejou e… levou o “petisco”!
-"Não pensem que a “Lulu” come de tudo, tem o gosto refinado - comenta o Humberto - pão, só se tiver manteiga, não gosta de sardinhas assadas, prefere carne, mas do que ela gosta mais é de camarão”!
O animal é, como se calcula, uma atração no restaurante. Como mais vale prevenir do que remediar, foi desparasitada e já “…falei com o médico veterinário para ver se a conseguimos vacinar e colocar-lhe uma coleira”, acrescentou o Humberto que, a talhe de foice, sempre vai passando palavra aos vizinhos – não vá alguém ter a infeliz ideia de fazer uma espera à “Lulu, de caçadeira na mão…
(...) O “padrinho” tornou-se responsável por ela, cativou-a, como na estória do “Principezinho”, de Saint-Exupéry.
-“ Lulu, toma”!
-
Publicado  no "Correio da Beira Serra" no dia 5 de agosto de 2008, incluindo  a foto


terça-feira, 8 de maio de 2018

“Primatono”, ou “Ouprima" ?


Não é nada disto que se espera da primavera:
- à noite, uma espécie de cacimbo africano;
- de manhã, neblina – densa, que só visto;
- o  dia cinzentão, frio.
Não fora  o mês, maio, e diria que  estávamos no outono, outubro, talvez.
Pensando bem, a “coisa” não é, como dizer… assim tão  ruim:   hoje, tenho o melhor  de dois  mundos, os meus:  gosto da primavera pelo  colorido da natureza, e do outono pela ausência do calor em excesso. O tempo de agora bem pode  ficar conhecido  como “primatono”, ou “ouprima”, para quem é de inventar  palavras de sorrir antes e depois do batismo.
A língua portuguesa   não está cheia, como um ovo, de  dúvidas etimológicas ? Portanto…
No último domingo, dia 6, aqui para as minhas bandas, o calor foi de verão. Por voltas das quatro da tarde,  a “primavera”  estava de regresso a casa quando… “ai, que vem chuva!”  -  por sorte, logo ali,  adormecido, o guarda chuva   fez “pst, pst…”, anunciou-se,   e eu, numa pressa,  gentil, usei-o. Com a mão direita, depois de aberto,  ergui-o acima das nossas cabeças, e a mão esquerda acompanhou o braço com que a aconcheguei (a “primavera”) – não fosse ela constipar-se com a forte bátega que, entretanto,  caiu das nuvens.
Ainda lhe disse : “… parece que estamos em África”!
Não, não é nada disto que se espera da primavera…

segunda-feira, 7 de maio de 2018

... A linguagem das flores


As rosas, agora viçosas, logo murcham. Há dias assim, sem primavera a tempo inteiro, embora continue anunciada no calendário…
Antes que faleçam por si, “matei” uma num gesto egoísta, daqueles que não abonam as doces palavras com que enfeito o monólogo sobre o  pacífico convívio com a natureza. Se lhe quero tanto, às rosas, como posso ser cruel?
Apesar  desta falta de coerência, honrei-a com  um solitário de cristal.
A trepadeira que deu vida  à flor insiste em presentear-me com mais e mais botões  de cor grená - estou na dúvida se estes filhotes de roseira, ao sol, não brilham mais  do que as “rosas negras” que estão prestes  a nascer.
Diz quem  sabe:  esta roseira, única no meu canteiro, é uma dádiva dos deuses, por ser uma Black Baccara  (li no Google…). A ser verdade, esta bênção faz de mim pessoa de sorte, embora nada conste nas características dos “misteriosos” escorpianos … a não ser que seja (…) o símbolo de amor louco ou mesmo paixão fatal e, é por isso, que na linguagem das flores, a Black Baccara significa “o meu amor vai durar até à morte” ou “o meu amor por ti é profundo e eterno”.  li no Google, mas  está longe de mim votar a favor…
Ia de saída quando a memória  me disse que, além de um “crime”, cometi dois: ontem, domingo, colhi outra rosa cor de carmim, mas foi por uma boa causa - à troca, recebi um “amor-perfeito”.