quinta-feira, 24 de agosto de 2023

A mulher da voz límpida e aprumada na sonoridade das palavras

 



                                   ...morava perto, numa casinha que ficava no caminho das Hortas



Tenho na memória da criança que eu era a voz de uma mulher, límpida e aprumada na sonoridade das palavras.
Dizia a mãe Natália que ela, a mulher da voz límpida e aprumada na sonoridade das palavras, cantava como a Amália – quem era a Amália?
A Amália cantava o fado - ouvia-se no rádio lá de casa.
A mulher da voz límpida e aprumada na sonoridade das palavras, não, não se ouvia no rádio, mas morava perto, numa casinha que ficava no caminho das Hortas, para agrado da mãe Natália, da avó Virgínia e da “minha cabeça” - era onde eu “guardava” as emoções, como o canto dos passarinhos, as meiguices de quem cuidava de mim, e a Banda Filarmónica, sobretudo quando tocava um certo Paso Doble que, se o ouvisse agora “voltava a ser criança”.
Um dia, meio século volvido, encontrei a mulher da voz límpida e aprumada na sonoridade das palavras, que cantava como a Amália. Falámos desse tempo e da sua “culpa” do meu agrado pela música que “guardo na cabeça”!
... É um vício que vem de criança. 

terça-feira, 22 de agosto de 2023

O “milagre” dos cavaquinhos

 

Eram dois os pequenos “atores” e uma ternurenta cena: o mais velho enlaça o outro, pequenote.
Noto que trocam palavras, possivelmente sobre a Tuna de Coja, em plena atuação no “improvisado palco”, pertinho do público.
… Possivelmente, os dois meninos eram os mais atentos e interessados no espetáculo.
Aproximo-me em silêncio…
O fascínio deles estava por conta dos cavaquinhos!
“Adivinho” a conversa, que não ouvi:

- “…as senhoras tocam com um brinquedo “muita” giro”!
- Não é giro? Chega-te aqui, mais perto: gostavas de ter um brinquedo daqueles?
- Simmm…
- Eu também gostava de um brinquedo assim…
- Escuta: 
-Tlim, tlim, tlimmm… é giro, não é?
 Um pouco mais tarde
Uma das senhoras da Tuna deixou que o menino  crescido afagasse o cavaquinho,  emprestou-lhe a palheta, e disse:
- Tens de fazer assim: 
-Tlim, tlim... tlim, tlimm…
 
Os meninos sorriram!
- Tlim, tlim... tlim, tlimm…
...
Naquela noite, durante o sono, nos sonhos, os dois meninos, com os seus novos brinquedos, tocaram cavaquinho na Tuna de Coja ou de outra terra qualquer
… talvez de Pomares - foi aqui que tudo "começou"!
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cr