quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

"Consoamos aqui os três"


Tenho de reserva 
para os tempos de agora dezenas de livros para ler - alguns, para reler


Quando a minha filha Ivânia, disponibilizou o empréstimo da obra (quase) completa de José Rodrigues dos Santos, agradeci - obrigadinho, mas não; gosto de folhear de preferência os meus livros, somente meus, parceiros de conversas para as conveniências de cada momento. A filhota sorriu, ok pai, entendo – e achou por bem presentear-me com “O Sétimo Selo”, do mesmo autor.
Esta mania/defeito de ser dono das minhas coisas - não das pessoas, que não são coisas, sem dono - faz de mim um minúsculo “ditador”. É por isso que nunca me tornei colecionador de coisa alguma, mas guardo, por exemplo, quantidades apreciáveis de moedas e selos com origem em meio mundo.
Volto ao defeito da posse…
Não recordo como Alves Redol entrou nos meus hábitos de leitura (em 1963 vivia em Moçambique); possivelmente pelo fascínio das palavras do autor quando descreve a (…) odisseia de um camponês que aprendeu a ler (…) no romance “Fanga”. A seguir, no mesmo ano, comprei “A Barca dos Sete Lemes” e fui comprando, comprando…
Alves Redol é, como se vê, um dos meus autores preferidos e velho amigo, por várias razões - uma delas por se ter inspirado (…) na vida de um jovem daqui, Constantino Cara-Linda, meu vizinho e amigo (…).
Quando li “Constantino - Guardador de vacas e de sonhos” nunca imaginei que, um dia, uma das filhas do protagonista da obra faria parte da minha família, o que faz de mim um sujeito honrado e “vaidoso”!
Miguel Torga é mais um autor dos meus gostos, e também pelas referências dos percursos de vida de dois dos seus amigos: Alberto Martins de Carvalho, meu conterrâneo, pedagogo e mestre, a quem fui “recomendado” quando entrei no liceu D. João III, em Coimbra, e Fernando Vale, “aristocrata da esquerda”- exemplo de longevidade na existência sadia e figura de proa no Partido Socialista e no Grande Oriente Lusitano…
A amizade de Torga com Fernando Vale é  conhecida, mas, diz-se, foi Martins de Carvalho quem os apresentou. Pormenor de somenos importância.
Volto ao defeito da posse.
Reli “Os novos Contos da Montanha”, de Miguel Torga - impossível ficar indiferente ao seu “Natal” . Ouso transcrever a “... ceia do Garrinchas”.
Por ser Natal.

“(…) Enxuto e quente, o Garrinchas dispôs-se então a cear. Tirou a navalha do bolso, cortou um pedaço de broa e uma fatia de febra e sentou-se. Mas antes da primeira bocada a alma deu-lhe um rebate e, por descargo de consciência, ergueu-se e chegou-se à entrada da capela. O clarão do lume batia em cheio na talha dourada e enchia depois a casa toda. É servida?
A Santa pareceu sorrir-lhe outra vez, e o menino também.
E o Garrinchas, diante daquele acolhimento cada vez mais cordial, não esteve com meias medidas: entrou, dirigiu-se ao altar, pegou na imagem e trouxe-a para junto da fogueira.
- Consoamos aqui os três - disse, com a pureza e a ironia de um patriarca.
- A Senhora faz de quem é; o pequeno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de S. José".

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

O pintainho amarelo

“(…)
- Como é que voltas a pôr o ovo lá dentro - disse ela - para o fazeres  sair outra vez? No teu sonho, claro.
 - Não sei, volta a entrar… lá para dentro, e pronto. Suponho eu.
O riso de Lydia é agora um disfarce.
- E que diria o Doutor Freud de uma coisa assim?
 Suspirei de irritação.
 - Nem tudo é….
 Suspiro
- Nem tudo
(…)
- Oh, claro - disse ela - às vezes um pintainho é só um pintainho, a não ser que seja uma galinha (…)”.

Quando a Ângela decidiu lembrar “a amizade, a alegria, o riso, as conversas”, fez agora anos, e presentear o meu aniversário com o “mais belo e melancólico romance de John  Banville”, segundo a opinião do crítico do Sunday Telegraph, não lhe passava pela cabeça que este “Eclipse”- título da capa - dizia de mim o incómodo de alguns dos (meus) segredos,  agora assumidos, que o tempo é de arrumar memórias.
Parágrafo a parágrafo, página a página, tomei assento na estória até dela fazer parte, como se fosse o autor dos “fantasmas” silenciosos que sempre me perseguiram, como sucedeu a Alex Cleave. Este “Eclipse”, na imaginação de John Banville, irlandês, nascido no ano em que eu nasci, tem tanto de mim que dá arrepios – li páginas inteiras “sobre mim”, voltei a ler, pausei a leitura, repeti parágrafos, páginas inteiras - era eu, sou eu “aquilo”, espécie de retrato dos meus medos – de um pequeno medo que fosse: ai se a memória me falha, como aconteceu a Alex Cleave, o ator, a quem aconteceu o vazio da fala à boca do proscénio. Essa foi a causa que o levou de regresso à casa onde nasceu para viver com os “fantasmas que habitavam o mesmo espaço”…

Alex Cleave teve (…) um pintainho amarelo, de celuloide, especado nas  suas patas muito finas  e que punha um ovo quando lhe  premiamos o dorso (…). Lydia estava a olhar para mim com um sorriso incómodo e desdenhoso, mas não inteiramente isento de ternura.
- E como é que se põe lá dentro? - perguntou-me.
- Lá dentro?

Nas minhas memórias de menino há um pintainho amarelo, que punha um ovo quando se premia o dorso.
Coincidência, caro Alex Cleave, aliás: "eu"!



segunda-feira, 27 de novembro de 2017

“Chuva Crioula” - nome do livro


“(…) os olhos verdes como os de uma onça negra”
“(…) se fosse mais clara, seria branca; um pouco mais escura, seria negra”







“Chuva Crioula” (1972), romance de José Mauro de Vasconcelos, escritor brasileiro, estava esquecido na prateleira sem que  a minha memória lhe desse vida. De "fio a pavio", desta vez, a leitura não teve parança - nem quando faltava  a eletricidade cá por casa, que  isto de  fios, cabos, disjuntores, transformadores etc e tal, por via do incêndio de outubro, anda tudo colado com "cuspo"..
Porém,  “O Meu Pé de Laranja Lima”, do mesmo autor, garantiu  a imortalidade da (...) "história de um meninozinho que um dia descobriu a dor..." e é, sem dúvida, o seu romance mais conhecido e premiado.
É através desta obra que J.M. de Vasconcelos passa a fazer parte  do meu restrito grupo de escritores  “amigos”, daqueles que  nunca nos deixam - ou  nós nunca deixamos de ter por perto, por mais voltas que possamos dar à vida -  na solidão de leituras intimistas.
No escaparate, além deste romance de José Mauro de Vasconcelos, ainda reservo para leitura posterior “Barro Blanco”, publicado em 1948, e o celebrado “O Meu Pé de Laranja Lima”, de 1968, para o reencontro com a candura do meninozinho.
Volto ao que me trouxe ao  telex: "Chuva Crioula", cognome de mulher e protagonista de enredo  literário  produzido com o engenho e a arte do escritor brasileiro.
Alguns de nós, homens tisnados pelo sol africano e adolescência a condizer, por certo estivemos perto de uma “Chuva Crioula” semelhante à que José Mauro de Vasconcelos inventou - quem sabe, com direito a namorico ...  
A “Chuva Crioula” que me “enfeitiçou” em 1968, em Inhambane, Moçambique, em tudo se assemelhava ao modelo escolhido por J.M. de Vasconcelos. Só não tinha “(…) os olhos verdes como os de uma onça  negra” - eram azuis!

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Acordar "vivo"

Quinze - 15! - dias sem internet!
Milhares de  metros de cabo  da PT queimados! Reposição sem data marcada.
Dizem que  os incêndios  do passado dia  15 de outubro  tiveram mão criminosa. Hum...
Garanto que de "herói" tenho pouco, quase nada, mas naquela tarde/noite fui "bombeiro, sapador, aguadeiro - "peguei o bicho pelos cornos"! As chamas, loucas, loucas, subiram a encosta e bateram-me à porta sem convite. 
Eu, "herói improvável" - quem diria?
Não fora a gentileza do Hugo e  continuava "off", longe das palavras, das imagens - agora,  com o router da  HUAWEI, deixo de estar limitado aos três "gigas" da MEO e dou notícias, sinal de que estou vivo, quero dizer: tenho "acordado vivo", o que não é mau de todo, digo eu, por seu EU o interessado na contabilidade dos (meus) outonos. Tempos houve em que  somava primaveras, agora não, somo outonos.
Entretanto, por "estar vivo",  ocupei-me de mim, do meu tempo.
José Rodrigues dos Santos : "A FÓRMULA DE DEUS" e "O SÉTIMO SELO". Quem não leu, deve ler.

sábado, 14 de outubro de 2017

Exercício sobre dois búzios (de Sophia de Mello Breyner)

Um acaso devolveu-me à leitura de “Contos Exemplares”, de Sophia de Mello Breyner. O livro, que descobri numa arca no sótão, editado em 1971, tem as folhas amarelecidas pelo tempo – nunca as palavras imortais da autora.
Nesta edição (a quarta), o então Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, assina o prefácio e é pela leitura das páginas que escreveu – mais de cinquenta! – que D. António nos remete para a excelência da obra de Sophia, apontando a sua enorme espiritualidade como referência a ter em conta.
À genialidade do conhecimento de D. António Ferreira Gomes junte-se o talento da maior poetisa portuguesa e ficamos com uma “peça rara” do nosso património cultural.
Qualquer português, minimamente culto, conhece alguma coisa de Sophia de Mello Breyner. Particularmente, creio que “A Viagem” é uma espécie de catecismo pelo facto de dimensionar a esperança de qualquer humano, entre o “Alfa e o Ómega”, até aos limites do quase impossível! Na estória de ficção, além do mais, a autora desenha poesia e poetiza a música das palavras, como sempre fez, com sensibilidade ímpar.
Não admira que a saudade de si, por tudo quanto legou à Humanidade, regresse nas asas do tempo como a excepcional voz da cantora brasileira Maria Bethânia deixa transparecer no álbum “Mar de Sophia”, editado, salvo erro, o ano passado, onde o mar e os seus símbolos, a partir da poesia de Sophia de Mello Breyner, nos transportam para viagens de completo encantamento.
Para meu regalo, a comunhão do belo (as palavras da Sophia na voz da Bethânia) chegou aos meus ouvidos numa tarde calma, bem longe do mar que a poetisa amava como se fosse coisa sua – somente sua! 
Por mim, a “minha serra” sempre foi o lugar perfeito para a poesia que me enche a alma – por vezes descubro  no silêncio oceanos de emoções que nem a morte há-de apagar da memória dos vivos! …
E hei-de “voltar à minha serra”, como a Sophia ao seu mar:
-“Quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não passei ao pé do mar”!
Ainda nos “Contos Exemplares”, num deles (Homero) a autora retrata “… um velho louco e vagabundo a quem chamam Búzio…”. Obviamente, o texto mantém o estilo e a arte poética de Sophia..
De novo e sempre o mar:
-”O Búzio era como um monumento manuelino: tudo nele lembrava coisas marítimas…”.
Em Junho passado, depois das férias, conheci outro búzio: “ O Búzio de Cós e outros poemas
” – novas imagens de outros mares que Sophia não precisa mencionar – basta uma simples e bela concha fusiforme e fica perfeito o cenário de Cós, ilha do mar Egeu, onde Sophia comprou o búzio “numa venda junto ao cais…”.
Às suas epopeias, Sophia de Mello Breyner, agrega dois búzios impregnados de simbologia que tocaram a minha sensibilidade: a um faltava o aconchego de uma “concha”: “ O Búzio não possuía nada, como uma árvore não possui nada. Vivia com a terra toda que era ele próprio...”; ao outro não ouvia “ … nem o marulho de Cós nem de Egina…”.
Por mais que me deleite nas marés dos seus poemas, fico sem saber quantos mares formam o caleidoscópio da áurea de Sophia de Mello Breyner…

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Publicado no "Correio da Beira Serra" / 4 de Março de 2008


quarta-feira, 4 de outubro de 2017

"Pinga amores"

A paixão, é dos “livros”, embriaga e deixa-nos tontos, desconcertados nas palavras e nas atitudes - que sei eu sobre os segredos deste nobre sentimento que outros desconheçam? Mesmo nada - é um “mal” que chega sem aviso prévio, instala-se o ”vírus” e pronto…
Já o amor… “O amor é um fogo que arde sem se ver (…)”, na certeza de Camões. Fico-me por este “fogo”, matéria delicada por entender que há vários tipos de amor, e volto à paixão - às minhas paixões; sendo várias, embarco, navego e afundo-me nelas. “Fraqueza” minha, dirão - é verdade, assumo.
Quem me mandou a mim sapateiro tocar rabecão” quando, por exemplo, me “apaixonei” pelo intelecto da Helena, pela elegância das palavras da Helena, pelos incentivos estéticos da Helena, pelo perfume que a Helena usa, pela silhueta da Helena - sim, quem me mandou sonhar o sonho, como se fosse terra de semeadura… 
Citei a Helena, mas podia trazer à prosa a minha “paixão” pelo sorriso único e indiscritível da Ana (dos que dizem coisas, segredos …), pela silhueta da Ana, pelo cheiro da Ana, pela força de viver da Ana, pela disponibilidade do amor da Ana, que a distância quebrou e me deu pena...
Sendo várias, as paixões, em tempos diferentes, embarco, navego e afundo-me nelas. “Fraqueza” minha, dirão - é verdade, assumo. 
Quem me manda a mim apaixonar-me pela aldeia onde nasci, pela “minha” escola”, pela “minha” filarmónica, pelo “meu” rio que mata a sede de nós todos, banha o “meu” Urtigal”, faz mover a roda de alcatruzes no verão e é atração da família “AABA - Autocaravanistas Amigos do Barril de Alva”…
Sim, quem me manda a mim, “pinga amores”, inventar paixões que me embriagam e deixam tonto?


segunda-feira, 2 de outubro de 2017

“Faleceu” a croniqueta despretensiosa

Esta croniqueta, a que me proponho dar  sentido e forma, começou a ser construída no modo solidário e fraterno  quando eu era adolescente em terras  de Moçambique. Agora,  crescido na idade, com mais de setenta primaveras sobre os ombros, frágeis como sempre foram,  e liberto, como estou, dos juramentos de amor à coisa pública, é tempo de retornar ao berço  da leitura de algumas  das obras que fui somando  nas prateleiras,
Havendo liberdade mental para o entretenimento com os livros, em abono da verdade muito bem acompanhado (Miguel Torga, Gabriel Garcia Márquez, Milan Kundera, José Rodrigues dos Santos e outros), basta deixar ao pensamento a decisão suprema de ocupar os dias como muito bem lhe aprouver.
Aqui chegado, ao dia seguinte das eleições autárquicas, em consciência entendo ter cumprido o “destino”, na peugada (de alguns) dos que me antecederam: à aldeia onde nasci deixo alguma coisa de mim, sem memoriais de leituras que, de forma expressa, ou sob disfarce, fossem o reflexo da essência da vaidade.
Diria que esta croniqueta tinha a “morte anunciada” (do título Crónica de uma morte anunciada / Gabriel Garcia Márquez).
Hoje, de motu proprio, lúcida e consciente, ela, a croniqueta,   foi a enterrar  e eu com ela, num sublime e inteligível  ritual.
Quando “falecem” croniquetas despretensiosas com pessoas dentro há rituais assim, de despedida…



quinta-feira, 28 de setembro de 2017

"Satanhoco" - o caluniador

Já é manhã do dia seguinte. 
Agora, com tempo, exercito a mente: ouço sons de "cornetas" como se fossem "arautos da desgraça alheia", e é por aí que me fico na incerteza se devo, ou não, marcar vez na banca de um qualquer adivinho, o vulgar bruxo (no creo en brujas, pero que las hay, las hay - em espanhol dá mais "categoria"...) para que a sua bola de cristal me "garanta" o nome do (a) corajoso (a) caluniador (a). Não é por nada, mas sempre podia esquecer durante breve tempo as boas maneiras... 
Além do dicionário do Torrinha, usava de memória outros "nomes bonitos", dos que aprendi em terras de Moçambique, como "satanhoco", por exemplo, que é dos mais leves - "não mata, mas " desmoraliza... 

"Ser ou não ser galinha" - eis a questão

Não sei se estava com cara de caso, setressado talvez (o que não é de admirar quando as más notícias chegam ligeiras pela manhã...
Portanto, naquele dia devia estar com cara (e disposição!) de poucos amigos.
Fora de portas, longe de casa, cruzei-me com uma senhora, que cumprimentei sem afivelar nenhum estilo de sorriso.
- Boa tarde, como tem passado?
Recebo o troco do cumprimento e um sorriso bonito:
- Boa tarde, como está?
Ainda sem estilo no sorriso, respondo:
- Estou ótimo, "bom como o milho"...
Resposta rápida e acutilante da senhora:
- Bolas, já não quero ser galinha!!!
Gargalhei como um "menino de coro" e fui à minha vida.
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quarta-feira, 26 de julho de 2017

Roby Amorim


Durante cerca de um  ano tive a honra de trabalhar  ao lado de uma das figuras marcantes do jornalismo nacional. De forma muito particular,   foi o meu mestre  nos "segredos" de  conduzir uma reportagem.
Palavras de quem o conheceu  mais de perto: 
(...) "Na equipa de reportagem de O Século ele era a figura mais importante", conta Rui Cabral à Lusa, salientando também a sua faceta de "grande contador de histórias", a capacidade para se rir de si próprio ou a "arte de escrever entre as linhas", quando era preciso fintar a censura ...).
(...) Fernando Correia de Oliveira, que trabalhou igualmente com Roby Amorim, lembra na sua página na Internet os desenhos feitos misturando borras de café, ou o "eterno cigarro" e o "saber enciclopédico" do jornalista. Roby Amorim recebeu por duas vezes o Prémio Pereira da Rosa (1971 e 1972) e em 1973 o Prémio Nacional de Jornalismo Afonso de Bragança. "Estava a preparar um romance histórico, baseado na figura de uma avó", conta também Fernando Correia de Oliveira...).
As memórias que ilustram esta página vêm desse tempo, do tempo do "telex" - o jornal.
Roby Amorim, o mestre, faleceu em dezembro de 2013.


terça-feira, 25 de julho de 2017

Como no cinema...







Quem não tem memórias das  "fitas" de cinema protoganizadas  por  esbeltas  mulheres com quem "sonhamos o sonho" de fazerem parte das nossas vidas? Ou nós das vidas delas...
Dos meus sonhos de adolescente guardo para sempre  o encanto desta figura a preto e branco por quem me apaixonei perdidamente - eu, no "outro lado do mundo", do seu mundo...
Há sonhos assim, sonhados, como no cinema.

domingo, 23 de julho de 2017

Hoje, sim...

Não sei se é de mim, mas vejo e sinto o dia lindo, lindo - deve ser dele, do dia, ou então das horas a mais que passei enrolado nos lençóis...

sexta-feira, 21 de julho de 2017

O facebook do "tarzan", o gato

Um dos meus gatos nasceu para caçar. E para calcorrear o mundo dos quintais sem cuidados,  pela ausência das pessoas. Não podia ter outro parque de diversões, nem maior, nem melhor - como se fosse o seu facebook...
Como é "meu amigo", tudo o que apanha, deposita no tapete, do lado de fora da porta de entrada.  Se desprezo a caça, ele "fala" e diz   miauuuuuuu  -  e recomeça, brinca, brinca  com a vítima, já inconsciente, morta.  E consome o que mata, quando mata

sexta-feira, 30 de junho de 2017

"Monte dos Vendavais"

Das minhas memórias em papel, acumuladas em mais de meio século, a lembrança de um episódio faz com que viaje ao tempo do liceu e aos meus doze anos de gente.
Aluno do 2º ano do Externato Alves Mendes, em Arganil - famoso na região da Beira Serra pela competência dos professores que o diretor Homero contratava -, tinha chegado o tempo da longa viagem que havia de mudar radicalmente a minha existência. O destino era Lourenço Marques, em Moçambique...
No meu último dia de aulas fui surpreendido com algumas manifestações de simpatia, mas o gesto da professora de Matemática, de seu nome Lurdes, teve o condão de me despertar o prazer da leitura.
Depois de uma visita à livraria da "Comarca de Arganil", a professora retirou da prateleira um exemplar da obra de Emily Brontë, "Montes dos Vendavais, e numa das páginas interiores escreveu 

-"Para o Carlos, uma lembrança da professora amiga, MLurdes".

Reencontrei-me  de novo com a leitura da obra da escritora que usava um pseudónimo masculino.
...O hábito de  ler, já em Lourenço Marques, levou-me ao desconhecido (para mim) Anna Karénina , de   Tolstoi . Foi um "empreendimento intelectual" cansativo, confesso.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

"telex" - o jornal

Em 1976 fiz parte de um projeto com "pernas para andar", mas ficou sem as ditas um ano depois...
Os proprietários do telex, o novo semanário, sonhavam alto, tão alto que imaginavam destronar o Expresso!
E como o "sonho comanda a vida", eu (regressado de Moçambique) e mais uma mão cheia de jornalistas de gabarito (José Mensurado, Francisco Máximo, João Carreira Bom, Robi Amorim, Samy Santos, etc, etc...) embarcámos no sonho.
No último fim de semana, às voltas com as minhas memórias em papel, dei com alguns exemplares do telex. Como gosto de mudar coisas, alterei o título do sarabanda, o blog - uma mania como outra qualquer.

S.S. - Por qué no te callas? Canta, simplesmente

Fui um dos portugueses que acompanhou a noite passada pela TV o desfile das grandes vozes presentes  no MEO ARENA. 
O gesto solidário de quem participou no espetáculo, que teve por finalidade angariar  fundos para as vítimas  dos violentos incêndios que consumiram pessoas e bens, comoveu a maioria dos portugueses, eu incluido. Quem pisou o palco, como intérprete, cumpriu o seu papel a preceito e deixou recados, também eles solidários. Era o que se "pedia" a quem se "venera".
S.S. é a  "vedeta" nais recentte das nossas emoões . Sou um dos portugueses que aprecia o seu talento e a irreverência da postura com que leva  a Carta a Garcia., mas...
Ontem, o serão do MEO ARENA dispensava palavras brejeiras.
S.S. cumpriu, cantando. O resto era desnecessário.
Por qué no te callas? Canta, simplesmente

domingo, 4 de junho de 2017

Rio Alva - "poeta e sonhador"

Os rios Mondego, Alva e  Zêzere nascem na Serra da Estrela. 

"Conta a lenda que, um dia, discutiram a valentia de cada um e acertaram numa corrida que esclareceria a questão: quem chegasse primeiro ao mar seria o vencedor.
O Mondego levantou-se cedo e começou a deslizar silenciosamente para não atrair as atenções. Passou pela Guarda e pelas regiões de Celorico, Gouveia, Manteigas, Canas de Senhorim e pela Raiva, onde se fortaleceu junto dos ribeiros seus primos, chegando por fim a Coimbra.
O Zêzere, que estava atento, saiu ao mesmo tempo que o seu irmão. Oculto, por entre os penhascos, foi direito a Manteigas, passou a Guarda e o Fundão, mas logo depois se desnorteou e, cansado, veio a perder-se nas águas do Tejo.
O Alva passou a noite a contar as estrelas, perdido em divagações de sonhador e poeta. Quando acordou, era já muito tarde mas ainda a tempo de avistar os seus irmãos ao longe.
Tempestuoso, rompeu montes e rochedos, atravessou penhascos e vales, mas quando pensava que tinha vencido deparou com o Mondego, no momento que este já adiantado chegava ao mar. O Alva ainda tentou expulsar o seu irmão do leito, debatendo-se com fúria e espumando de raiva, mas o Mondego engoliu-o com o seu ar altivo e irónico.
Este lugar onde os dois rios lutaram ficou para sempre conhecido como Raiva, em memória da contenda entre os dois irmãos".



terça-feira, 30 de maio de 2017

A praça pública onde se esgrimem argumentos

Há dois anos,
neste mesmo dia, dei corpo ao texto que segue, que me parece oportuno repetir. Insisto: a "praça pública" (...) seria pintalgada de outras cores, com a predominância do vermelho dos campeões – e um pouco de verde, pronto, para satisfação dos meus conterrâneos, nada contentes com a “medalha de bronze”…

Ao longo de quase setenta anos (melhor: sessenta - desconto dez para me situar em Coimbra, no falecido Liceu D.João III, depois no Externato Alves Mendes, em Arganil, e mais tarde no colégio Luís de Camões, em Lourenço Marques...) procurei formatar o caráter e, como qualquer estudante da época, li os clássicos e construi o meu jeito de estar entre os iguais do meu tempo. Hegel, marcou-me de uma forma tão sublime que, de quando em vez, volto à leitura de coisas suas, como é caso da obra Estética - “A ideia e o Ideal” (mas posso citar outras mais, coisas minhas escritas por Hegel, quando me situo no etéreo das dúvidas sobre o meu eu absoluto: existo?). 
Do empirismo das (minhas) teorias com que me dou inteiro, à assunção de um certo romantismo de cavalheiro, em desuso nos tempos de agora, não ouso definição capaz de me aproximar do mestre da Estética – “A Arte Simbólica”. 
Hegel é difícil de entender. “Teimoso” na defesa das (suas) ideias, imagino-o na “praça pública” a esgrimir argumentos sobre a “estética” da mistura de estilos e volumetria de determinadas peças, brancas e cinzentas, e sua utilidade… 
Por mim, a escolher, a ”praça pública” onde se esgrimem argumentos seria pintalgada de outras cores, com a predominância do vermelho dos campeões – e um pouco de verde, pronto, para satisfação dos meus conterrâneos, nada contentes com a “medalha de bronze”…

“…  Chamamos ao belo ideia do belo. Este deve ser concebido como ideia e, ao mesmo tempo, como a ideia sob forma particular; quer dizer, como idealO belo, já o disse, é a ideia; não a ideia abstrata, anterior à sua manifestação, não realizada, mas a ideia concreta ou realizada” - Hegel

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Sardinhas, sim, mas das nossas...

Confesso: cometi um "pecado".Possivelmente, serei absolvido, ou condenado, sim, mas a pena leve: amanhã, ao almoço, volto ao bitoque (quem diz bitoque, posso cumprir o castigo com uma feijoada com todos…).
Gosto de sardinhas assadas na brasa, de um  copo de bom tinto e uma fatia de broa - almoço perfeito!
Não sendo verão, deixei-me levar pela funcionária do mini mercado quando publicitava aos clientes a “maravilha” das sardinhas pescadas nas águas de Marrocos – tão boas, mas tão boas que pingam no pão, dizia. Então, quero uma embalagem, se faz favor…
Descongelei três “bichinhos”, temperei-os com sal grosso, acendi o lume e quando as brasas estavam “quentinhas” levei a grelha ao sacrifício…
Entretanto, no fogão, estavam a cozer quatro batatas novas com casca, das grandes…
Cumpridos os rituais de uma boa sardinhada, quando é verão e o azeite é da casa, esmerei o apetite: retirei uma posta do lombo de um dos bichos, levei-o à boca, mas …. ohhhh, o sabor era  quase nada!
Eis, pois, o meu pecado “capital”: adiantei o verão no calendário dos meus apetites e deu nisto: as batatas, o azeite, a broa e o tinto justificaram as minhas pressas, mas as sardinhas...

quarta-feira, 24 de maio de 2017

A formiguinha



















"Era uma vez uma cigarra que vivia saltitando e cantando pelo bosque, sem se preocupar com o futuro. Esbarrando numa formiguinha, que carregava uma folha pesada, perguntou: 
- Ei, formiguinha, para quê todo esse trabalho? O verão é para aproveitar! O verão é para nos divertirmos...
- Não, não, não! Nós, formigas, não temos tempo para a diversão. É preciso trabalhar agora para guardar comida para o inverno (...)".

terça-feira, 23 de maio de 2017

"A árvore da vida"

...nota-se nas palavras 

Conheci a Sara - onze anos, com quietude no olhar e  gestos suaves. O sorriso, meio envergonhado, nota-se nas palavras, 
de meia dúzia de palavras 
- tempo da curta conversa,  com o beneplácito do avô na partilha de emoções. 
São silenciosas as lágrimas da Sara  quando o  familar mostra "A árvora da vida" - poema que a Sara desenhou  com a ternura das palavras, 
de algumas palavras  
- as suficientes e as que melhor identificam os seus sentimentos por um ente querido.
A Sara, "por dentro", é assim:


A árvore da vida

Nem quando a última pétala tiver caído,
Sobre o teu rosto enrugado,

Eu nunca te vou esquecer,
Estarei sempre ao teu lado.


Nem quando a última folha tiver secado
Sobre os teus olhos cansados

Vou te sempre amar
Beijando os teus pés calejados.


Nem quando o último ramo tiver partido
Sobre o teu corpo delicado

Eu vou estar sempre aqui
Olhando por ti, amargurado.


Mas o tronco nunca desabará
Pois ele é amor e perdão

É paciência, é carinho
Dentro do meu coração.

Afinal que árvore é esta
Nem a rosa nem a margarida
Sabem que esta árvore especial

É a árvore da vida.

*


quarta-feira, 17 de maio de 2017

... de tirar o chapéu


A última semana passou  às memórias de quem as tem, principalmente se
- aprecia o Papa Francisco
- gosta de "Amar pelos Dois"
- vibra com as vitórias do Benfica.
... Além destes  três "gostos", recebi a  confirmação de que o meu sinalzinho de trazer por casa está, de facto,  morto e enterrado, como o Doutor Eufrásio tinha previsto!
Sou um sortudo.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Como sempre, vestido de branco

Liguei a televisão. O avião que trazia o Papa Francisco planava no écran.
Preso à comodidade do sofá, fui ficando, ficando.... fiquei até ao fim - não perdi pitada das primeiras horas do homem vestido de branco em solo português!
Perdi a conta  aos minutos - alguns  deles vivi-os emocionado até à medula. 
O sorriso do Papa, os gestos do Papa, as pessoas, todas as pessoas - milhares!- em silêncio, quando foi caso disso - o silêncio de  tanta gente e (...) o tempo que tarda em passar /e aquilo em que ninguém quer acreditar (*).
Digo à Rita: 
- gostava de ter a Fé daquela gente,  se não de toda a gente, de alguma daquela gente...
- não tens essa (Fé) mas tens outra(s), disse a Rita...
"Às vezes é no meio de tanta gente / Que descubro afinal aquilo que sou / Sou um grito / Ou sou uma pedra / De um altar aonde não estou" (*) ...
-
(*) Retirado do poema de Maria Guinot " Silêncio e tanta gente"

"Aquilo" deve ser rápido...

Anda por aí um profano (logo agora, com o Papa Francisco a caminho de Fátima...) a anunciar que vai começar a terceira  guerra mundial! Está por dias - disse  ele, o profano!
Os pormenores, embora desconhecidos, adivinham-se: uns senhores  "de bem" e importantes carregam em botões e os  "foguetes" fazem puuummmmm - sabe-se lá onde!
"Aquilo" deve ser rápido...
Espero eu que os senhores "de bem" e importantes, nos entretantos, tenham congeminado uma espécie de  "Plano Marshall"  para juntar os cacos e começar tudo de novo, mas com outra gente. Talvez  uma ajudinha dos nossos vizinhos e amigos alienígenas dê jeito.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

À distância dos sentidos

Assumo a  minha aversão à violência – seja ela física ou verbal.
Da primeira quero distância; se preciso for,  aproximo-me da segunda - aguento-a com tento na língua e vou à luta quando o opositor justifica que esgrima argumentos. Não sendo de guerrear, travo as batalhas  que forem precisas.
Admito as minhas fraquezas e a ignorância do desconhecido: apenas sei “ler e escrever”, e a inteligência não me presenteou com a erudição dos predestinados.
O caráter, esse desejo-o firme não importa quando, onde e porquê – sendo humano, caio e levanto-me as vezes que forem precisas. 
Obviamente recuso-me a existir de joelhos no limbo da minha consciência, que morrerá inteira se para tanto o juízo não me atraiçoar …
Aprecio o belo de cada coisa e olho o horizonte com a atenção que é devida ao Universo. Mais perto, à distância dos sentidos, a sensibilidade de que sou capaz permite a paixão do amor - de todo o amor! Assim sendo, insisto na denúncia da minha teimosia: gosto, porque sim, sem nenhuma explicação adicional para este mau feitio de quem permanece fiel à estética do amor.
Ponto.
.
... de volta ao "Confessionário" - 21 de setembro de 2011

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Não fez sangue, mas...

Ando preso a uma dúvida sobre o meu relacionamento com os gatos cá de casa. Será que esta “família por adoção”, quando estou longe do ASUS, vai cuscar as notícias?
Hoje, por ser hoje, os animais de companhia, diz a Lei, deixam de ser “coisas”.
Como é que a Banzi “soube”?...
A “tia” Banzi” sempre foi uma sujeitinha muito senhora de si, é verdade, e não admite “parcerias”  nos afetos  - EXIGE os miminhos só para si!
Também é verdade que, quando se enrosca perto de mim, fica num permanente rom-rom, olha  e “diz coisas” - coisas, palavras de gato que não entendo.
Há pouco, tendo eu os dois braços disponíveis, ela ficou do meu lado esquerdo, como sempre, e os gémeos do outro. A Banzi não tardou a mostrar "má cara", e os “sobrinhos” fugiram dos meus cafunés. Depois, como lhe “disse” que isso não abonava a sua postura, perfeitamente egoísta e de má vizinhança, ameaçou com uma mordidela. Não fez sangue, mas deixou marcas na minha mão…
Não consigo fazer-me entender quanto aos meus préstimos ao serviço da comunidade cá de casa, composta por mim, a Banzi, o Tarzan  e o Saguim.
Os gémeos adoram vadiar; a Banzi, lá por  “passar” o tempo todo em rons-rons, não significa que tenha direitos extras, isto é: “fora da lei” da fraternidade e da igualdade em que fui educado…
É aqui que a minha ingenuidade, cá por dentro, faz das suas: sei agora que existem (alguns) gatos que “pensam e agem” como (algumas) pessoas…



sábado, 29 de abril de 2017

Nas mãos de quem sabe

Perdi a conta (?) aos anos que me separam de uma certa noite de sábado, que podia ter sido a última entre o número dos vivos.
Sem saber como, no meu RiTuAL Bar, caí atrás do balcão. O que aconteceu a seguir pertence ao mundo do "não me lembro", mas tenho presente que "acordei" com a voz mansa do João Paiva:
- Alguma quebra de tensão, nada de mais, mas é melhor ir ao médico…
O Paiva continuou gentil, tão gentil que me transportou no seu carro ao Centro de Saúde. 
Passava das dez da noite, havia imensa gente à espera de consulta, mas como "ameacei" com novo desmaio, levaram-me quase ao colo à presença do doutor Herdade. Desse momento até ser encaminhado para uma ambulância de "teto alto", a pedido do médico, passaram-se poucos minutos...
A caminho dos HUC, sob a proteção de um enfermeiro, aconteceram outras peripécias sem muitas lembranças. 
Quando "acordei", nos HUC, estava rodeado de médicos e enfermeiros, e a minha filha Ana Rita estava com cara de caso, mas sorriu quando trocámos olhares.
Durante quatro dias fui tão bem tratado, que me considerei "um VIP"!
Volvidos “não sei quantos anos”, continuo a sentir-me “VIP" quando vou aos HUC…
…e agora no IPO, em Coimbra, por causa de um sinalzinho de trazer por casa, mantenho o mesmo “estatuto”.



terça-feira, 25 de abril de 2017

.. e fui pela esquerda (...)

Por volta das oito da manhã, todos os dias, os gémeos cá de casa "batem" à porta do meu quarto e "falam" de mansinho, certamente com a intenção de lhes abrir a porta em sossego; de outro modo, eu em sobressalto,  sou (?) bem capaz de  barafustar  um raspanete ao estilo de um bruto,
- mas isto são horas de acordar um homem "justo"?
Já no quarto, os gémeos levantam a "voz", sem exageros, encaminham-se para a janela e  "suplicam" liberdade
- deixa-nos sair, dar uma volta...
- saltem - sei que uma  voltinha representa horas de passeio, mas se  são felizes assim...
Hoje, para cumprir o ritual, "obrigaram-me" a madrugar ainda o ponteiro das horas estava longe das oito. 
Estava num sonho tão lindo, quase real, e estes  "sujeitos" cortaram o fio à meada. "Zangado", atirei a roupa da cama  para o meu lado direito e fui pela esquerda abrir a porta do quarto.


sábado, 22 de abril de 2017

Kiko - “papoila saltitante”

A mensagem dizia que (…) o Kiko foi convidado para jogar por uma seleção de jogadores das escolas do Benfica da zona de Coimbra no fim-de-semana passado. Jogou pelos benjamins e pelos infantis e ganhou o torneio em ambos os escalões (…) !

Ora, o Kiko “sou eu” em tempos idos, com os sonhos do Kiko - sonhos iguais aos do Eusébio, do Rui Rodrigues (Académica e Benfica) e do Brassard (Académica), meus “vizinhos”  e adversários em Lourenço Marques…
Papoila saltitante” (nem que seja uma única vez!) e “ter na alma a chama imensa” está ao alcance de alguns - dos que o sol (…) “risonho vem beijar/com orgulho muito seu” quem veste (…) “as camisolas berrantes”!

Vestido “à Benfica”, o nosso Kiko já tem memórias para partilhar com  o avô paterno dentro delas…

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Passeio noturno sem GPS

Os gémeos de quatro patas que tenho em casa, a noite passada, portaram-se mal - tão mal que me afastaram do sono. 
O passeio higiénico a seguir ao jantar, desta vez deu para o torto e os "meninos" possivelmente deixaram em casa o GPS  - é a única explicação que encontro para a noitada  fora de portas.
Pensando melhor: talvez  tenham encontrado  alguma princesa com bigodes; rom-rom para aqui, rom-rom para acolá e foram andando, andando até ao desnorte...
Por mais que chamasse pelos sujeitinhos, nada - nem um miau, a "dizer": estamos aqui, vamos já - é só o tempo de dar "cabo do canastro" ao ratito, que ainda mexe. Sim, estes "miúdos" adoram caçar, saem à mãe, a Satori, sobretudo o mais crescido no tamanho; crescido, sim, mas medricas que só visto.
Um dia da semana passada, estava eu ocupado nas minhas leituras quando   ouvi forte miauuuuuuu  aflitivo, ao jeito de pedido de socorro - “depressa, acudam aqui”!!!
Fechei o ASUS  à pressa, a "tia" gata Banzi  desceu as escadas  do primeiro andar numa correria, abri a porta que dá para o quintal  e avançámos, destemidos, pelo capim, (eu de) olhos postos  nos cocurutos das oliveiras, mas foi na pernada mais grossa da cerejeira que descobri o "medricas". Mais abaixo, um “gato mau”,  de pelo preto, "fuzilava com o olhar" o gémeo "Saguim". Do irmão, o "Tarzan", nem sinal! 
Deitei ao ar   dois ou três palavrões, o gato mau  “percebeu” que eu  também era "mau"(e dizia palavrões!), deu um salto acrobático digno de atleta circense e pirou-se.  
Na noite passada, como ia dizendo, se alguma coisa  má tivesse acontecido, não seria  por falta de  aviso, não : "olha o gato mau que te dá uma coça"; "não vás para longe, ainda és atropelado"; "nada de meiguices para quem não conheces, ainda te raptam" - coisas assim, de "tio" crescido...
Hoje, às oito da manhã, espreitei pela janela da marquise - lá estavam  os "meninos",  no telhado da churrasqueira, olhos fixos na janela: “então, não nos abres a porta"? Ai estão aí? - para castigo, é aí que vão continuar. Eu, o “tio” mau, o "castigador"!
Quando regressei ao meu quarto, estavam os dois sentadinhos no lado de fora,  no parapeito da janela, tristinhos, tristinhos....
Agora estão aqui, dormitam no sofá, ao meu lado.
...E ainda não puseram o "pé" na rua! É muito bem feito - quem os manda  andar na galderice?

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Bolinhas de pelo curto

Texto adptado do original publicada em abril de 2009 com o título
"Seis pompons na beira da estrada"



Ouvi na rádio que a Câmara Municipal de Arouca, no distrito de Aveiro, está a projetar no terreno uma iniciativa fora do vulgar, tendo em vista dinamizar o turismo rural.
Recorro à página oficial da “ANCRA” - Associação Nacional dos Criadores da Raça Arouquesa” e fico a saber que “…as vacas adultas, de manhã são levadas para o monte onde passam todo o dia e só regressam já de noite. Os vitelos ficam na "corte". Mamam antes da vaca sair e quando ela regressa do monte…” .
Portanto, a estória que ouvi de fugida, tem a ver com esta espécie de gado bovino que se alimenta nos baldios da região, mas o que prendeu a minha atenção foi o pormenor da ideia: qualquer um de nós pode adquirir um animal desta raça (ou mais!), que terá um chip incorporado no dorso de modo a ser localizado com facilidade enquanto vagueia pelos montes. A entidade responsável pelos cuidados dos animais, sedeada no local, a qualquer hora do dia, pode ser contactada pelo proprietário e este, se desejar, pode visitar o seu animal no habitat natural. O dono também pode negociar a sua  vaca com quem entender, mediante certas regras, etc, etc.
Interessante, na minha opinião, a iniciativa, quase cópia do que o Jardim Zoológico pratica quando decidimos “apadrinhar” determinado animal, contribuindo para o seu sustento. 
Por falar em “apadrinhar” animais - agora começa outra estória, inspirada na iniciativa da Câmara de Arouca-, há uns tempos atrás dei de caras com duas raposas, ainda jovens, penso, que se cruzaram comigo quando ia para casa, noite alta. Apesar de conduzir devagar, diminuí ainda mais a velocidade do Renault e fiquei a vê-las, por segundos, numa “luta” sem intenções perigosas. Terminada a brincadeira, foram à vida, atravessando a estrada. A partir desse dia, pelo menos uma está “à minha espera”(?), e logo que a luz dos faróis a ilumina, levanta-se, olha para “mim”, e passa para o outro lado, perdendo-se no mato que, por ali, é rasteiro.
Acredito que os progenitores andem por perto, mas como as “nossas relações são pacíficas”, não creio que “aconselhem” os filhotes a mudarem de pouso.
O mesmo “dirão” os esquilos que, de quando em vez, vejo saltitar nos carvalhos, durante o dia, ou os “Saca Rabos” (espécie de gato bravo) quando procuram caça. 
Surpresa maior: há dois dias, depois de (mais) uma curva, reparei que estavam uns “pompons” enroscadinhos na berma da estrada. Parei, as bolinhas de pelo ganharam vida e, meio assustadas, esconderam-se na valeta pouco profunda. Contei quatro cachorrinhos matizados, entre o branco e o preto, alguns com tons de cinzento no pelo.
Como não tenho uma vaca “Arouquesa”, e como não sou “padrinho” de nenhum animal em cativeiro, assumi a responsabilidade de alimentar, pelo menos uma vez por dia, os “meus pompons” - que afinal são seis e não quatro! - mais a mãe, baixota e feia de tão magra, mas que “sorri” abanando o rabo quando me vê.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Possivelmente "sou daqui"...







Existe em mim tamanho encanto por este sítio que faço dele coisa minha, como se fosse mesmo minha e só minha. 

Alguma razão terá o meu subconsciente para reagir em total sossego quando encaminho os passos para o "meu" sítio. 


Se tenho sede de "música" nada melhor do que a estereofonia das águas do "meu" rio - confortam-me o espírito como só eu sei!


O Urtigal é pedaço de paraíso na Terra, mágico - não pelos ofícios humanos mas pela obra da mãe Natureza, tão pura e perfeita. Possivelmente "sou daqui", apesar de impuro e imperfeito...