sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Que bom!

Se o mundo acabou, não dei por nada.
Morri? Não dei conta - se calhar, morri mesmo...
O tempo, para quem morre, deve ser imenso, eterno - nunca se morre!
Que bom!!!

Xanax, pelo sim, pelo não...

Disse a médica:
- Vai ter de ir para Coimbra.
-  Ok, vou no meu carro - disse eu.
Diz a médica:
- Não, não, vai de ambulância.
E eu fui de ambulância.
Entre as cinco da tarde e a meia noite estive entregue aos cuidados de várias saberes e competências. Por fim, o veredito:
- Está tudo bem consigo, possivelmente anda com o sistema nervoso alterado...
Palavra de cardiologista é  bálsamo que alivia a dor no peito e coloca  a cabeça no lugar...
- É capaz de ser isso, sim - disse eu; agradeci  as gentilezas  e fiquei-me por meio sorriso, sem mais palavras.
A cardiologista retribuiu o meio sorriso, confirmou que "estou óptimo", e com o mesmo gesto delicado:
- Vai tomar um Xanax  fraquinho.
Como quem se despede, passou da sua mão para a minha  a receita  do Xanax 0,5.
De regresso a casa, o táxi deixou-me no parque de estacionamento  do Centro de Saúde,  à porta do  Toyota.
Eram duas da manhã.
Para não "morrer completamente estúpido", pelo sim, pelo não, antes de "acabar o mundo", um Xanax é  "sempre bem vindo"...

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Sem estrondo

Não rubrico um "pacto de regime" pela via da hipocrisia política. Quando reconheço a minha incompetência nesta matéria, pela vivência dos factos, caminho na direcção da porta de saída sem fazer estardalhaço, embora triste...

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Pequenos prazeres

O frio, lá fora, é intenso - zero graus às nove da noite!
Janto peixe assado no forno, regresso ao conforto da lareira acesa, aqueço-me o suficiente para ganhar coragem e voltar à cozinha, quase gelada...
Tomo um chá de camomila bem quente, e como me apetece o gosto de figos secos, levo seis na mão. De seguida, retiro a rolha do garrafão de cinco litros, meio cheio (ou meio vazio?) de aguardente de medronho ( dos tempos em que a mãe Natália recolhia os frutos das árvores que ainda  existem no Calvino, na companhia da "ti" Aida - agora com mais de noventa primaveras...), encho um copinho,  volto ao sofá, ao quentinho da lareira e ao ASUS...

domingo, 25 de novembro de 2012

Ziguezaguear

Escrevo como quem corre cem metros; passadas largas e poucas palavras devem bastar para chegar às metas a que me proponho.
Arfo de cansaço e ainda mal comecei…
... O pensamento, veloz, adianta-se e corta a meta antes de mim
 Ganhei ou perdi a corrida?

sábado, 22 de setembro de 2012

Nostalgia à sobremesa


Hoje vou ter vinte e três anos - nem mais um! - e volto a Inhambane e à praia do Tofo; depois,  embarco no barquinho para Maxixe, no outro lado da baía.
Com sorte, terei por companhia a mulata mais bonita de todos os sonhos de cada soldado que com ela se cruza.
Com sorte, apanho um peixe voador!
Com sorte, a  dose de galinha assada na brasa, à cafreal, acompanhada de batata frita, está pronta a sair; o almoço há-de durar  o tempo de muitas conversas.
Como de costume, vou pedir uma catembe para empurrar com goles suaves a galinha e as batatas. E o papo-seco, fabricado  no dia anterior, ou no anterior a este.
Vai ser assim:  uma tarde em cheio, com  nostalgia à sobremesa.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

...e há a nossa!

Dizia-me um amigo, a propósito de um namorico ocasional:
-  (...) há três tipos de mulheres: as boas mulheres, as mulheres boas e as gajas!
Acrescento eu, na esperança de que o meu amigo me leia e entenda:
- Ao grupo de três, junto mais um:  a (s) nossa (s)  - (mãe, esposa ou filha)!!!

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Pensando bem...


Pensando bem, o melhor é assumir  a minha aversão à violência – seja ela física ou verbal.
Da primeira quero distância, e da segunda  às vezes aproximo-me - aguento-a com tento na língua e  vou à luta quando o opositor justifica que esgrima argumentos.
Admito as minhas fraquezas e a ignorância do desconhecido; apenas sei  “ ler e escrever”, e a inteligência não me presenteou com a erudição dos predestinados.
O carácter, esse desejo-o firme quando vacilo, não importa quando, onde e porquê – sendo humano, caio e levanto-me as vezes que forem precisas. Obviamente, recuso-me a existir de joelhos no limbo da minha consciência, que morrerá  inteira se, para tanto, o juízo não me atraiçoar um dia destes …
Aprecio o belo de cada coisa e olho o horizonte com a atenção que é devida ao Universo. Mais perto, à distância dos sentidos, a sensibilidade de que sou capaz permite a paixão do amor - de todo o amor! Assim sendo, insisto na denúncia da minha teimosia: gosto, por que sim, sem nenhuma explicação adicional para este mau feitio de quem permanece fiel à estética do amor.
Setembro / 2011

Encruzilhadamente

Por que espero, se desespero? 
E por que fico, se quero ir?
E por que vou, se quero ficar?
E por que insisto e não desisto?
Isto é loucura ou desventura?
Inconsciência ou pertinência?
Sabedoria ou estupidez?
- Mania?
Talvez...

  RiTuAl /06

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Silêncios



Miríades de silêncios na troca de conversas... até um dia:
Ele:
- Olha nos meus olhos e escreve uma verdade sem palavras!
Ela:
- Só sei sorrir!
Sem ter com que escrever, perdeu o sorriso - e as palavras também...


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Por falar de sexo...

Diz uma das minhas amigas, viúva, na casa dos quarenta:
 - "...do que precisava era de um homem que me fizesse rir de quando   em vez, e tenho imensas saudades de  boas conversas, inteligentes, cultas, diversificadas..."!
Inverto os papeis, e faço meu este desabafo, quase dolorido, que retive  durante um jantar que juntou uma mão cheia de gente bonita, por dentro e por fora - espécie de viagem ao passado, quando o RiTuAl  (bar) era  "a nossa casa"...

domingo, 15 de julho de 2012

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Amigos para sempre



Há um tempito zanguei-me por coisa pouca com o vizinho do terceiro esquerdo. Era chato porque o senhor cruzava-se comigo e eu ficava sem jeito: "olho para ele ou não, digo bom dia ou finjo que não o vejo"? Estas dúvidas atormentavam-me com frequência, ou com a frequência com que passávamos um pelo outro, para ser sincero. Então, resolvi fazer as pazes com o senhor Silva (é o último nome do meu vizinho...) e agora, pelo natal, desejei-lhe "boas festas", estendendo a mão. Retribuição da praxe, que agradeci. Simpático, este senhor Silva!... - Pronto, pensei, assim é que é bonito, os vizinhos não devem andar desavindos, ainda nos cruzamos em algum sítio público, com mais pessoas por perto, e continuaria a ser chato alguém notar a indiferença mútua... Confesso que fui um pouco agressivo com ele no dia em que decidi virar-lhe as costas - até fiz por esquecer o seu nome próprio, com o intuito claro de o desconsiderar aos ouvidos de quem estava. Errei, dou a mão à palmatória da professora Georgina, que já morreu, por isso descanse em paz, por mim está perdoada - as reguadas nem sempre eram justas, mas o que lá vai, lá vai. Como se vê, tenho esta mania de esquecer e perdoar os arrufos, as injustiças, etc, etc... Entretanto, o senhor Silva candidatou-se ao lugar de presidente do condomínio do prédio que habitamos e não está de modas: organiza um comício junto à porta do elevador, no rés do chão, com a intenção de explicar aos restantes inquilinos as razões da sua candidatura (um ritual de todos os comícios, digo eu...) ! Ainda lhe zumbi ao ouvido que sem um "bebício" era difícil juntar as pessoas, o senhor Silva concordou e deu, de imediato, ordens à técnica da limpeza das escadas para comprar bifanas, "minis" e sumos sem gás. Como sou presidente do clube do bairro e tenho alguma influência (modéstia à parte) junto dos vizinhos do primeiro andar, e não só, o senhor Silva, sem qualquer intenção de se aproveitar da minha posição social, é preciso que se diga, convidou-me para estar ao seu lado no dia da festança. E assim foi! Até usei da palavra para afiançar que a nossa desavença foi coisa de putos, hoje somos grandes amigos, enfim.... disse o que a ocasião pedia, do alto meu havano, num jeito, tipo democrata, eu é que sei, eu é que mando - essas coisas que sempre se dizem quando se tem um estatuto social como o meu! Agora é esperar pelo dia das eleições, que estão para breve.


Janeiro 2006

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O retrato






Tenho um retrato de mim à vista, mas não me reconheço quando o fito, pausadamente ou de forma fugidia. Nos traços do rosto não há sinais de caminhadas e nas pupilas não vislumbro lampejos de felicidade; até o meio sorriso pouco diz…
Houve um tempo de balanço, quando as esperanças definharam, com resultados positivos. Agora, se desnudo a alma e a deixo por aí, carpindo mágoas e mendigando gestos de afagos, fico sem saber quem sou, quem fui, e quanto ao dia seguinte, não vislumbro mudança de opinião – apenas a expectativa do que possa suceder entre a manhã e a madrugada, faz com que fique atento.
Se o retrato pouco diz (?) e a alma inquieta não veste sinais de esperança, que farei com este corpo? As palavras arranco-as do mais recôndito refúgio e espalho-as por aí, a esmo - talvez alguma germine em terra árida, fecundando-a de emoções, embora tardias…
Perante as dúvidas do ego, decido-me pela descoberta do outro “eu”, ao espelho, mas não vejo o cordão umbilical que me amarra à vida. Terei passado ao Oriente Eterno? Se assim é, o corpo, que não tinha utilidade visível, está no sítio certo – o tempo se encarregará de apagar das memórias as minhas coisinhas miúdas, e talvez ganhe rótulo de “bom sujeito”, mas pouco lúcido.
A alma quero-a imortal, sem lembranças do último adeus.

(209)

terça-feira, 10 de julho de 2012

Ambanini




Horas,
dias, semanas, 
meses,
anos a fio
de vazios.
- Choannnnnnnnne!
- Buialéne - acena uma das mãos.
Não respondo ao cumprimento nem ao apelo do passado e caminho, embora trôpego.

...


Ambanini = adeus


Choane = olá


Buialéne = anda cá

Dia de domingo





Hoje é dia de domingo frio e chove devagar.


Eu, sem ocupação suficiente durante a tarde,
viajei por mundos desconhecidos,
indeciso entre a nostalgia e a saudade, como sempre acontece nestes dias friorentos e chuvosos.
Nestes dias friorentos e chuvosos, todos os sentidos saem de mim e fixam-se num ponto do Índico, num outro tempo, numa outra vida, onde eu existia em função da esperança e da expectativa daquilo que não sou. Quando regresso, sinto-me perdido,
demoro a reencontrar-me: basta um sinal (domingos frios e chuvosos... ) e volto a ser homem de outro oceano, mais perto da serra onde me revejo. Por aqui andou Torga, há memórias.


Lembrei-me de Pessoa, que era Fernando,
do que sou, enquanto "pessoa",
e da Ofélia, que imagino apaixonada!


Ouço, sinto música...
Volto à biblioteca do disco rígido e descubro Villaret


entre tangos, valsas, sambas, "reggae", rock...
- Regressaram os sentidos: Fernando Pessoa.... João Villaret;
deleito-me com a " Tabacaria" durante dez minutos
e voo cinquenta e sete segundos nas asas da "Liberdade"!
Continua domingo.
(Talvez ouça de seguida marimbeiros de Zavala num outro som, em perfeita harmonia...)
Bayeeeeeeeeeeeete!

Secreto segredo


Viajei com as minhas mãos
pelo oceano de lágrimas do teu rosto
em busca de porto seguro
- miragem de emoções
cativas da memória do olhar que se perdeu
na imensidão do teu sorriso,
que sempre fala, mas pouco diz;
por isso, há uma jura de não te ver
e um desejo para que voltes
todos os dias...
- Fico à espera
das palavras que não ouvi,
do carinho que não recebi,
do acto que não senti
 - do gesto de um beijo!

Este secreto segredo
é muito mais do que estar só!...

Eu, "deus"



Equiparei-me a um deus
desprovido de omnipotência
na ânsia de ser igual a mim mesmo...

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Os trovadores



São dois, os trovadores.
O de cor amarela, sem raça definida, figurava no jardim de entrada do "Ritual", onde participava nas "cantigas ao desafio" com o "Pavarotti" de boa memória; o outro, um "ágata", mal acorda, afina a "voz" para o concerto que dura até ao anoitecer.
… E há flores no jardim interior porque não sei viver sem elas!

Eu, pessoa


Num compasso por inventar
escrevo suaves melodias
com gestos de Ofélia virtual.
E eu, sempre pessoa,
canto as palavras
em tom quase divino.

Fim de festa

Queria ver-te nua
e da alma despida
na rua,
perdida...
Em gozos celestiais,
êxtases de loucuras
e orgias de entontecer,
banais seriam as tuas graças
- desventuras talvez!
E eu, rosto enxuto,
braços cruzados,
a ver morrer aos poucos,
de vez,
a alma, o corpo
a tua imagem,
sem coragem
de oscular em fim de festa
o pouco que de ti resta..

Imaginação

Descomplique-se o poema porque o amor não é complicado...