domingo, 15 de julho de 2012

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Amigos para sempre



Há um tempito zanguei-me por coisa pouca com o vizinho do terceiro esquerdo. Era chato porque o senhor cruzava-se comigo e eu ficava sem jeito: "olho para ele ou não, digo bom dia ou finjo que não o vejo"? Estas dúvidas atormentavam-me com frequência, ou com a frequência com que passávamos um pelo outro, para ser sincero. Então, resolvi fazer as pazes com o senhor Silva (é o último nome do meu vizinho...) e agora, pelo natal, desejei-lhe "boas festas", estendendo a mão. Retribuição da praxe, que agradeci. Simpático, este senhor Silva!... - Pronto, pensei, assim é que é bonito, os vizinhos não devem andar desavindos, ainda nos cruzamos em algum sítio público, com mais pessoas por perto, e continuaria a ser chato alguém notar a indiferença mútua... Confesso que fui um pouco agressivo com ele no dia em que decidi virar-lhe as costas - até fiz por esquecer o seu nome próprio, com o intuito claro de o desconsiderar aos ouvidos de quem estava. Errei, dou a mão à palmatória da professora Georgina, que já morreu, por isso descanse em paz, por mim está perdoada - as reguadas nem sempre eram justas, mas o que lá vai, lá vai. Como se vê, tenho esta mania de esquecer e perdoar os arrufos, as injustiças, etc, etc... Entretanto, o senhor Silva candidatou-se ao lugar de presidente do condomínio do prédio que habitamos e não está de modas: organiza um comício junto à porta do elevador, no rés do chão, com a intenção de explicar aos restantes inquilinos as razões da sua candidatura (um ritual de todos os comícios, digo eu...) ! Ainda lhe zumbi ao ouvido que sem um "bebício" era difícil juntar as pessoas, o senhor Silva concordou e deu, de imediato, ordens à técnica da limpeza das escadas para comprar bifanas, "minis" e sumos sem gás. Como sou presidente do clube do bairro e tenho alguma influência (modéstia à parte) junto dos vizinhos do primeiro andar, e não só, o senhor Silva, sem qualquer intenção de se aproveitar da minha posição social, é preciso que se diga, convidou-me para estar ao seu lado no dia da festança. E assim foi! Até usei da palavra para afiançar que a nossa desavença foi coisa de putos, hoje somos grandes amigos, enfim.... disse o que a ocasião pedia, do alto meu havano, num jeito, tipo democrata, eu é que sei, eu é que mando - essas coisas que sempre se dizem quando se tem um estatuto social como o meu! Agora é esperar pelo dia das eleições, que estão para breve.


Janeiro 2006

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O retrato






Tenho um retrato de mim à vista, mas não me reconheço quando o fito, pausadamente ou de forma fugidia. Nos traços do rosto não há sinais de caminhadas e nas pupilas não vislumbro lampejos de felicidade; até o meio sorriso pouco diz…
Houve um tempo de balanço, quando as esperanças definharam, com resultados positivos. Agora, se desnudo a alma e a deixo por aí, carpindo mágoas e mendigando gestos de afagos, fico sem saber quem sou, quem fui, e quanto ao dia seguinte, não vislumbro mudança de opinião – apenas a expectativa do que possa suceder entre a manhã e a madrugada, faz com que fique atento.
Se o retrato pouco diz (?) e a alma inquieta não veste sinais de esperança, que farei com este corpo? As palavras arranco-as do mais recôndito refúgio e espalho-as por aí, a esmo - talvez alguma germine em terra árida, fecundando-a de emoções, embora tardias…
Perante as dúvidas do ego, decido-me pela descoberta do outro “eu”, ao espelho, mas não vejo o cordão umbilical que me amarra à vida. Terei passado ao Oriente Eterno? Se assim é, o corpo, que não tinha utilidade visível, está no sítio certo – o tempo se encarregará de apagar das memórias as minhas coisinhas miúdas, e talvez ganhe rótulo de “bom sujeito”, mas pouco lúcido.
A alma quero-a imortal, sem lembranças do último adeus.

(209)

terça-feira, 10 de julho de 2012

Ambanini




Horas,
dias, semanas, 
meses,
anos a fio
de vazios.
- Choannnnnnnnne!
- Buialéne - acena uma das mãos.
Não respondo ao cumprimento nem ao apelo do passado e caminho, embora trôpego.

...


Ambanini = adeus


Choane = olá


Buialéne = anda cá

Dia de domingo





Hoje é dia de domingo frio e chove devagar.


Eu, sem ocupação suficiente durante a tarde,
viajei por mundos desconhecidos,
indeciso entre a nostalgia e a saudade, como sempre acontece nestes dias friorentos e chuvosos.
Nestes dias friorentos e chuvosos, todos os sentidos saem de mim e fixam-se num ponto do Índico, num outro tempo, numa outra vida, onde eu existia em função da esperança e da expectativa daquilo que não sou. Quando regresso, sinto-me perdido,
demoro a reencontrar-me: basta um sinal (domingos frios e chuvosos... ) e volto a ser homem de outro oceano, mais perto da serra onde me revejo. Por aqui andou Torga, há memórias.


Lembrei-me de Pessoa, que era Fernando,
do que sou, enquanto "pessoa",
e da Ofélia, que imagino apaixonada!


Ouço, sinto música...
Volto à biblioteca do disco rígido e descubro Villaret


entre tangos, valsas, sambas, "reggae", rock...
- Regressaram os sentidos: Fernando Pessoa.... João Villaret;
deleito-me com a " Tabacaria" durante dez minutos
e voo cinquenta e sete segundos nas asas da "Liberdade"!
Continua domingo.
(Talvez ouça de seguida marimbeiros de Zavala num outro som, em perfeita harmonia...)
Bayeeeeeeeeeeeete!

Secreto segredo


Viajei com as minhas mãos
pelo oceano de lágrimas do teu rosto
em busca de porto seguro
- miragem de emoções
cativas da memória do olhar que se perdeu
na imensidão do teu sorriso,
que sempre fala, mas pouco diz;
por isso, há uma jura de não te ver
e um desejo para que voltes
todos os dias...
- Fico à espera
das palavras que não ouvi,
do carinho que não recebi,
do acto que não senti
 - do gesto de um beijo!

Este secreto segredo
é muito mais do que estar só!...

Eu, "deus"



Equiparei-me a um deus
desprovido de omnipotência
na ânsia de ser igual a mim mesmo...

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Os trovadores



São dois, os trovadores.
O de cor amarela, sem raça definida, figurava no jardim de entrada do "Ritual", onde participava nas "cantigas ao desafio" com o "Pavarotti" de boa memória; o outro, um "ágata", mal acorda, afina a "voz" para o concerto que dura até ao anoitecer.
… E há flores no jardim interior porque não sei viver sem elas!

Eu, pessoa


Num compasso por inventar
escrevo suaves melodias
com gestos de Ofélia virtual.
E eu, sempre pessoa,
canto as palavras
em tom quase divino.

Fim de festa

Queria ver-te nua
e da alma despida
na rua,
perdida...
Em gozos celestiais,
êxtases de loucuras
e orgias de entontecer,
banais seriam as tuas graças
- desventuras talvez!
E eu, rosto enxuto,
braços cruzados,
a ver morrer aos poucos,
de vez,
a alma, o corpo
a tua imagem,
sem coragem
de oscular em fim de festa
o pouco que de ti resta..

Imaginação

Descomplique-se o poema porque o amor não é complicado...