quinta-feira, 16 de maio de 2024

"...Têm cá uma sorte!..."




Manhã de sábado, na minha amada terra, junto à ponte sobre o Alva.
Há dezenas de viaturas ligeiras estacionadas, estrada acima, autocaravanas em repouso, e mais de duas centenas de pessoas circulam entre os parques de "Lazer", "AIACO" e Área de Serviço para Autocaravanas...
Ando por ali, cumprimento e sou cumprimentado - até por pessoas que nunca vi! Um casal oferece-me arbustos floridos para plantar no Urtigal, mas exige os vasos de volta - fica prometido, assim será...
Cruzo-me com um cidadão, português como eu, trocamos os "bons dias" e os sorrisos e, à saída do cumprimento, deixa-me nas costas uma palmadinha "simpática" com meia dúzia de palavras a acompanhar:
- Ena, "casa cheia" - têm cá uma sorte!...
- Pois, pois, retorqui: "ter sorte" dá imenso trabalho, " amigo"...
O "meu amigo" não se explicou sobre o tempo do verbo: a sorte "era só minha", das equipas de que tenho feito parte, ou do Barril de Alva no seu todo? Calculo que estivesse a referir-se ao último executivo da Junta de freguesia do Barril de Alva, ou ao atual elenco da União das Freguesias de Coja e Barril de Alva. Ou ao Barril de Alva, no seu todo...
"Apenas minha" foi a palmadinha que me deixou nas costas à saída do cumprimento...
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Texto  "facebookiano" publicado  no dia 16 de maio de 2015


 

quinta-feira, 25 de abril de 2024

O dia 25 de Abril de 1975 (também) foi uma “espécie de arco-íris” ...

 


Em Abril de 1975 residia em Moçambique, na cidade de João Belo, Xai Xai, capital do distrito de Gaza, exercia as  funções de  gerente comercial numa das maiores empresas do setor, e tinha sido eleito secretário da Associação de Desportos  do Distrito de Gaza.

A revolução “dos cravos”, foi recebida com euforia  em Malehice, Chibuto, Distrito de Gaza, de onde era natural Joaquim Chissano.

Em João Belo, e nas outras localidades, a maioria da comunidade europeia partilhou com agrado a satisfação da população africana pelo primeiro passo para o fim da luta armada e consequente independência de Moçambique, como era o desejo de quem aí tinha nascido e de muitos outros que, pela paixão do amor, tinham adotado  aquela terra  como sua. Era o meu caso!


Dias depois  do 25 de Abril de 1975, em nome dos proprietários da Casa Fonseca e dos seus funcionários, subscrevi um telegrama endereçado a Joaquim Chissano, que ocupou a função de Primeiro-Ministro do Governo de Transição até 25 de junho de 1975, data da proclamação da independência de Moçambique; posteriormente assumiu a pasta de Ministro dos Negócios Estrangeiros e mais tarde foi eleito Presidente da República.

O texto do telegrama, em síntese,  parabenizava o ilustre conterrâneo pelo seu  empenho no futuro de Moçambique, terra de “todos nós”, independentemente das suas origens, cor da pele, raça e religião.

- O dia 25 de Abril de 1975  (também) foi uma “espécie de arco-íris” ...

quinta-feira, 28 de março de 2024

ESTGOH, 2007 - Caloiros “à solta”

 “(…)O Ginja II, que tem jeito para o canto, apresentava-se com um estilo de penteado com tendências futuristas, deu nas vistas - pelo menos enquanto não visitou o barbeiro para acerto das escadinhas laterais, entre as orelhas e o cocuruto(…)”


 Não perco pitada das estórias contadas em jeito de crónica pelo escritor Rui Zink, daí que procure alguns dos seus subsídios para meios sorrisos eloquentes, como o excerto deste texto: “Dinossauros excelentíssimos”, que pode ser lido nas suas crónicas benditas: “Luto pela felicidade dos portugueses”.
“…Ao almoço, no restaurante:
- O que recomenda?
- O pargo está uma delícia, e além disso é licenciado em Económicas
- Hum… licenciado em Económicas…
- Mas olhe que está uma categoria…
- Eu sei, mas queria qualquer coisa mais substancial. Não tem nada com mestrado?
- Peixes não, - mas tenho umas costeletas de vitela que estão a tirar o doutoramento em Oxford. Fritinhas e servidas com batatas da Católica ficam uma maravilha”.

O  saboroso diálogo bem podia fazer parte de um sketch a que os novos caloiros estariam sujeitos, se a Praxe académica tivesse outros contornos de entretenimento puro, o que não invalida a comicidade dos parodiantes em situações inventadas, na hora, pelos doutores.

Graças aos noviços da ESTGOH fiquei a saber que o balcão do bar onde alguns estudantes foram vítimas da Praxe, mede “quase” oitenta paus de fósforos; não acredito, apesar dos encarregados, na proporção de três para um (trabalhador), garantirem a autenticidade dos cinco centímetros de cada amorfo.
As dúvidas resultam do facto de, entre eles, apesar da sobriedade com que se apresentaram ao trabalho, não existir consenso quanto às metades que faltam ou sobram a cada ladrilho: que fazer aos sobejos dos ditos? Ou será que são pequenos em demasia?
Em defesa da lógica, o doutor Carlos Maia “Fiúza”, filósofo de ocasião, apontou uma garrafa de Porto e do alto da sua insigne sabedoria, discursa:
- Isto é simples: para mim, a garrafa está meia vazia; aqui para o Ginja, meia cheia!
O Ginja II, que tem jeito para o canto, apresentava-se com um estilo de penteado com tendências futuristas e deu nas vistas - pelo menos enquanto não visitou o barbeiro para acerto das escadinhas laterais, entre as orelhas e o cocuruto. Pensativo, o Ginja II, como se imagina, concordou com o mestre, não fosse este ordenar punição maior pela irreverência do contraditório.
A tertúlia compôs-se, segundo o grau e qualidade de quem ia chegando – pessoas ilustres e ilustradas pelo traje negro sem pergaminhos, por ora, a saber: doutores Hélder Pinto, Romeo (com o, sim senhor …) Vieira “Laurent Robert”, Bruno Gomes, e Carlos Maia ”Fiúza”, os engenheiros Santarém, “o campino”, Álvaro Ferreira, ”o músico”, a que se juntaram os afilhados Mi Gusto, Lloyd e Roger. Faltaram à chamada o doutor João Paiva, “o teórico da bola”, possivelmente a congeminar nova tática que possibilite vitórias ao seu clube, e o engenheiro João Bagorro, “o alentejano”, talvez a meio da única “imperial” do dia!
A coberto dos cuidados paternos, alguns ficaram no anonimato, como convém.
Para o Ludovic Costa, “o francês”, 23 anos de idade, licenciado em Económicas, voltar a ser caloiro em Engenharia Civil, “é obra”!
A ESTGOH começa a ser aliciante para a classe estudantil, daí que a Praxe se instale com cânones próprios - falta eleger o Dux Veteranorum!!
Perante “malta” de tal jaez, espera-se, em Oliveira do Hospital, um ano letivo recheado de bons costumes académicos.
Quanto às aulas, há tempo, “o ano só agora começou” – palavra de caloiro!

* Publicado em 2007  - https://ritualmente.blogspot.com/

... 2 "testemunhos

Que saudades!
De ser caloira e matar a formiga aos gritos! de ser doutora para poder praxar... sempre fui muito branda se os pudesse safar, safava...
O meu traje... a minha lapela amarela e cinzenta... a cartola... a bengala...
São apenas recordações!
Bom ano para os caloiros! Aos doutores muito estudo da fisica do levantamento da caneca!
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Que saudades...
Saudades, sim saudades... Quem diria que eu um dia viesse a escrever isso, eu que sempre fui "do contra". Mas é, tudo isso deixa imensas saudades:
Aquele café meio escondido onde passei grande parte do tempo (a trabalhar), conversar, cantar e as vezes até quem sabe se nao filozofava, e os meus pais pensavam que eu estava em casa tal um menino bem comportado a estudar! "Ai se eles soubessem" lamentava eu quando ja depois de acabar um certo Logan 12anos e ouvindo o melhor Ritualista dizer-me: "Ja estas lindo!"; pois é o Ritual deixa-me imensas saudades.
E aquelas pessoas que me acompanharam desde o inicio desta vida estudantil. Nao esquecendo os que me "apanharam" na recta final. A todos um eterno obrigado, nao eskecendo ninguem e começando pelo meu familiar mais proximo Sr. Carlos, Maia, Andreia, Roger, Ana(s), Helder, Lipinha, Teresinha, Madeirinha, e tantos mais.; pois é o essas pessoas todas deixam-me imensas saudades.

Ass.: Roméo (com o, sim senhor …) Vieira “Laurent Robert”

segunda-feira, 18 de março de 2024

A importância de se chamar Dulcineia



Do meu sítio vejo os novos moinhos de vento implantados na Serra do Açor. A bem do progresso e da economia, a paisagem está, em definitivo, alterada; o horizonte, se o céu não estiver escondido pelas nuvens, ficou estranho para quem entende pouco ou nada de energias renovadas.
Para sempre, desaparecem os moinhos que moíam os grãos. Os atuais aerogeradores são gigantes com uma “cabeça” a piscar de vermelho na noite; de dia descobrem-se as “velas” num movimento constante e pouco apressado, com a finalidade de converter a energia eólica em energia elétrica. Parte dela fará mover sofisticadas engrenagens com funções semelhantes às dos antigos moinhos dos moleiros, imagens ilustres da obra de Miguel de Cervantes, D. Quixote de la Mancha
O autor narra, entre outras aventuras, a luta de D. Quixote contra os moinhos de vento que o próprio confunde com gigantes.
Se Miguel de Cervantes existisse neste tempo de modernidades, a ponto de viajarmos a outros planetas, certamente teria dado outro sentido à sua imortal obra e era bem capaz de inventar outro personagem, talvez com a “mesma triste figura” do seu cavaleiro andante, mas por outras causas…
Imagino a “minha serra” do Açor como mote para estória novelesca, desvendando segredos, como os que estão associados à aldeia histórica do Piódão.
É por aqui que me fecho num silêncio absurdo sobre a paisagem, quase “morta” de gentes e animais – nem um corvacho a sondar do alto a ração do dia, muito menos um “moleiro”, se é que os houve por lá noutros tempos.
Conduzo devagar, a seguir a uma curva, descubro a aldeia, faço uma pausa na viagem e contemplo a realidade de um sítio de total encantamento. Cá de cima não vislumbro qualquer tipo de vida, como se o Piódão estivesse adormecido.
Continuo sem mais paragens até ao largo da Igreja. Depois, a pé, ando por ali numa espécie de solidão de bem-querer – desejo-a assim, que me faz bem à alma. Subo por uma rua minúscula e, na volta, o olhar perde-se no topo da serra e nos gigantes que “protegem” a aldeia…
Este momento único foi suficiente para reviver a estória do D. Quixote de la Mancha e do seu escudeiro Sancho Pança – duas personagens do imaginário fantástico de Cervantes.
Junto-lhe uma terceira, que nunca se “vê” na obra, mas sente-se a sua importância na vida apaixonada do cavaleiro: Dulcineia.
Estou, na vida, como D. Quixote de la Mancha em relação à figura que nunca viu – só dei conta disso num dia de Outono, no Piódão, aqui tão perto…
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In 

RiTuAL(idades) - novembro 2008

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Uma cidade chamada Inès


 Volto à nostalgia para situar um ponto no Índico: Moçambique!

Foi naquele país encantado por deuses de múltiplas facetas estéticas que me descobri como homem; cresci e quase completava determinado ciclo da minha existência quando valores mais altos se levantaram e retornei, em boa companhia, à casa onde nasci neste ponto da Europa, longe do Atlântico que leva saudades à Baía do Espírito Santo em barquinhos de papel.
Em tempos nunca esquecidos, a "minha cidade"  teve nome de navegador: Lourenço Marques!
Fosse eu Pedro na lenda da Quinta das Lágrimas e teria chamado à minha cidade, Inês!

* Na falta de ondas e marés, sem correntes de feição, recorro à ciência deste tempo para estar mais perto da minha gente, e ouço os sons que chegam do outro lado do mundo, aqui mesmo - basta um "click" !
No serão da última noite, tive companhia de elevado grau e qualidade - do locutor de serviço ao homem da técnica, de Villaret a Manuel Alegre, de Pedro Abrunhosa à "ELisa Gomara Saia", interpretado por voz genuína, sem trejeitos.
...E o telefone mesmo aqui, à mão!
Num impulso, marco um número. Espero dois, três segundos:
- Bom dia, fala da Rádio Moçambique.
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Eram quatro da madrugada na "minha terra"...
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Publicado em dezembro de 2005 no blogue  "ritualidades" - https://ritualmente.blogspot.com/2005/