sábado, 30 de maio de 2015

"Primeiro estranha-se, depois entranha-se"

Quando somos confrontados com surpresas, de todo inesperadas, boas ou más, bonitas ou feias, amores ou desamores, amigos que foram inimigos e/ou inimigos que agora são amigos, fidelidades ou traições, pessoas que foram gordas e agora são magras e/ou magras que já foram gordas (...), trago à ideia a "Coca Cola", de Fernando Pessoa...

A ”praça pública”, onde se esgrimem argumentos


Ao longo de quase setenta anos (melhor: sessenta - desconto dez para me situar em Coimbra, no falecido Liceu D.João III, depois no Externato Alves Mendes, em Arganil, e mais tarde no colégio Luís de Camões, em Lourenço Marques...) procurei formatar o caráter e, como qualquer estudante da época, li os clássicos e construi o meu jeito de estar entre os iguais do meu tempo. Hegel, marcou-me de uma forma tão "sublime" que, de quando em vez, volto à leitura de coisas suas, como é caso da obra Estética - “A ideia e o Ideal” (mas posso citar outras mais, "coisas minhas" escritas por Hegel, quando me situo no etéreo das dúvidas sobre o meu eu absoluto: existo? 

Do empirismo das (minhas) teorias com que me dou inteiro, à assunção de um certo romantismo de cavalheiro, em desuso nos tempos de agora, não ouso definição capaz de me aproximar do mestre da Estética – “A Arte Simbólica”. Hegel é difícil de entender. “Teimoso” na defesa das (suas) ideias, imagino-o na “praça pública” a esgrimir argumentos sobre a “estética” da mistura de estilos e volumetria de determinadas peças, brancas e cinzentas, e sua utilidade… 

Por mim, a escolher, a ”praça pública” onde se esgrimem argumentos seria pintalgada de outras cores, com a predominância do vermelho dos campeões – e um pouco de verde, pronto, para satisfação dos meus conterrâneos, nada contentes com a “medalha de bronze”…

“…  Chamamos ao belo ideia do belo. Este deve ser concebido como ideia e, ao mesmo tempo, como a ideia sob forma particular; quer dizer, como ideal. O belo, já o disse, é a ideia; não a ideia abstracta, anterior à sua manifestação, não realizada, mas a ideia concreta ou realizada” - Hegel


quarta-feira, 20 de maio de 2015

João Soares - o contador de "estórias"

Ao João Soares, mestre e companheiro de incontáveis serões, na hora da sua passagem ao Oriente Eterno


Havia um amigo comum e foi por essa via que eu e o “contador de estórias” chegámos à fala. Das conversas simples passámos à discussão de temas importantes (ou nem por isso…).
Debatemos ideias e encontramos pontos comuns no modo como nos revemos na comunidade.Se nos entendemos nos ideais, naturalmente procuramos nos “bons costumes” o equilíbrio entre a “sabedoria, a força e a beleza” dos nossos actos. Infelizmente, continuamos a “anos-luz” da “perfeição”, mas acreditamos que virá “um tempo de amor e fraternidade total” para que se cumpra o vaticínio do tal amigo comum: Fernando Vale.
O “meu contador de estórias” tem tanto de desportista como de boémio, mas não são apenas as memórias desses tempos, com o requinte do pormenor, que fazem de si a melhor das companhias numa tertúlia ao serão…Como gestor e autarca, recolheu fama de “pessoa séria, competente e rigorosa”. Agora, diz ter atingido a “reforma sem vencimento”, e fica longe dos encómios, de modo próprio.Para mim, basta que remexa nas suas lembranças - fico de imediato preso às circunstâncias de cada momento vivido na irreverência da juventude, mas não desdenho uma boa “estória” dos seus tempos de homem feito.Aprecio, sobretudo, a brejeirice com que envolve cada conto, talvez pelas gargalhadas que arranca à plateia da qual faço parte. Gabo-lhe o talento.
Peço-lhe para rabiscar as memórias, e a resposta vem sempre a meias com um sorriso, que não, “são coisas minhas” – diz.Perante isto, “ameaço-o” de gravar os seus contos, à socapa, e um dia ainda vou enricar à sua custa – garanto-lhe!
O meu amigo e “contador de estórias” volta a sorrir, sorri sempre, porque está de bem com a vida e consigo próprio.….
(Publicado em 23 de Março de 2009)